terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Livros e autores injustiçados - Clarice Lispector

Esta publicação é originalmente do meu antigo blog Reverbera, querida!, tomei a liberdade de publicá-la aqui, porque né, o texto e imagens são de minha autoria.



Prometi em escritos passados que voltaria aqui com uma lista de livros injustiçados ou mal compreendidos ou ainda, compreendidos de forma ridícula, como, na minha opinião, o é Great Gatsby. Mas mudei de ideia e farei toda a semana um post sobre um livro e/ou autor mal interpretado e afins. Como já falei, mesmo que rapidamente, do livro preferido por todos de Fitzgerald (o meu é Suave é a noite - tenho uma edição de capa dura) o já citado Great Gatsby, começarei com uma das autoras mais importantes da minha vida, a quem dediquei e dedico alguns anos de estudos e muito bem querer, dona Clarice Lispector. 


 Ao menos em termos de Brasil, Clarice Lispector se tornou a autora mais esculhambada de todos os tempos. Virou bodega, em português chulo mesmo. De trechos inventados à batatinha quando nasce, tudo é atribuído à Clarice, que virou chacota nas redes sociais. 

 Passeando pela tenebrosa timeline do Facebook, tenho que me deparar com mini posts de coleguinhas mal alfabetizados dos meus erês, dando a referência de qualquer asneira à Clarice, para fins de ridicularização de qualquer coisa, pra parecer bacana, coisa e tal. Ou seja, Clarice virou a metonímia do ridículo, do grotesco e da farsa literária. 

 Estorinha verídica de internet: uma certa pessoinha, que se dizia fã de Clarice Lispector, a citava e recitava quase como mantra, mas nunca havia lido um livro de Clarice, apenas sobre Clarice, o malogro da biografia (e enfim eu entendi a academia que tanta raiva sente do biografismo). E quando foi ler Clarice Lispector propriamente dito, odiou. 

 O que isso quer dizer? Que Clarice virou um autor mito, de tantas citações e falsas informações sobre uma vida cercada de mistérios, fugida de uma guerra. Uma estória triste, que muitos sem conhecer, julgam charmosa. E acaba que para uma leva de leitores, a literatura de Clarice ficou à deriva deste mito. 

 Fora o mito Clarice, há aquela lenda da escritora hermética, difícil, que só gente muito profunda entende, ou seja, papo de hipster, ou seja, que coisa antipática. Daí que tudo ridiculamente difícil (ou que aparenta difícil) ganha um atributo clariciano. A piada foi tão esgotada que o difícil escapou, restando apenas o advérbio ridiculamente, mesmo que incomode profundíssimamente a nossa língua portuguesa. E tudo que é ridículo é clariciano, tipo a batatinha quando nasce. E as pessoas se divertem, multiplicando tais ideias sobre Clarice, compartilhando trechos que a autora nunca escreveu. Poesias, Clarice nunca escreveu poesia! E seguem com o massacre.

 Pessoas que nunca leram um conto da Flor de Lis, quando enfim procuram ler, se decepcionam, porque ler Clarice é uma outra experiência literária, a do fluxo de consciência levada a última instância. Bem diferente dos monólogos interiores de um Dostoiévski, muito mais palatáveis.

 Para ler Clarice recomendo: 1ª Laços de família; 2ª A Paixão Segundo G.H. e se você conseguiu, ou seja, se deixou conquistar por todas as cores, perfumes e sensações da tessitura de Clarice, recomendo em 3ª Água Viva. Você será então um leitor iniciado.


 {Minhas edições antigas perto do Coração Selvagem - 3ª edição da linda editora Sabiá - e A Paixão Segundo GH}


 {Edições da Rocco, que publica Clarice faz alguns anos}

{Biografias da Clarice} 

{E o meu Caderno de Literatura Brasileira, raríssimo, esgotado e xodó!}

Bisous.

Um comentário :

Sejam educados, seus lindos!

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