segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Preto, Branco e Tons de Cinza



Eu sempre me identifiquei como negra, mas me dizem que eu não sou negra, que eu sou morena, quase que me "ajudando" a não ser tão dura comigo mesma. Sério gente, as pessoas pensam assim e o cearense é muito racista. E o carioca também. Vamos lá admitir, o brasileiro é racista.

As polêmicas das últimas semanas, o caso da gremista que xingou o goleiro do Santos de macaco e a série Sexo e as Nega me empurraram de vez para escrever sobre racismo aqui no blog, mas eu sei lá, viu?

 Óbvio que o acontecido naquele fatídico jogo entre Grêmio e Santos é muito pior e pede a urgência da punição legal, porque gerou comoção. A gremista foi espinafrada de todos os jeitos, está sob ameaças e houve o incidente criminoso do incêndio em sua casa. E isso tudo é repudiável. Mas a moça é racista sim. Aquele xingamento não foi a emoção do jogo, isso é balela, é ofender a nossa inteligência. As palavras saíram fluídas e sinceras, porque é aquilo que ela pensa e não só em jogos. Seria muito mais digno e bacana se a moça gremista tivesse admitido e pedido desculpas que soassem francas na coletiva de imprensa, mas não, fez um discursinho patético e saiu nos braços de seus defensores, para cair na graça da hipocrisia brasileira, gente cínica ao ponto de colocar em discussão o preconceito que o branco passa. Meu povo, melhore. Perdeu emprego e agora já tem outro, numa ONG, ao que parece. E ela quer virar símbolo contra o racismo. Oi?

E a série? Faz um trocadilho com Sex and the city. Alguém mais percebeu? O que a gente via em Sex and the city? Brancas ricas de Manhattan e suas peripécias sentimentais e sexuais. E na versão tupiniquim? Pobres pretas faveladas cariocas e suas peripécias sentimentais e sexuais. O que se está contestando é a coisa da preta favelada pobre, se estas fossem pretas ricas Zona Sul as peripécias sentimentais e sexuais eram o de menos. O Miguel Falabella é racista? Não gente, desculpa, mas ele não é racista. Falabella tentou recriar uma Sex and the city versão brasileira que para ele, para o gosto popular, seria composto por negras lindas e sensuais, mas faveladas com empregos subalternos. E isso chateou um monte de gente, incluindo eu, que não me vejo representada ali. 

Primeiro porque eu não sou sensual e sexy (a decepção do ex-marido que o diga), tampouco sou favelada e tenho um emprego subalterno - apesar do salário de professora, via de regra, ser ridículo, mas tudo bem. Estudei francês, artes, leio muito e o meu gosto musical passa bem longe do popularesco. Quer dizer que dificilmente criarão algo para a tv brasileira que me represente? Ledo engano, porque houve a novela Lado a Lado, Camila Pitanga, uma negra do começo do século XX, que estudou dança e se tornou uma artista famosa em Paris. Ou seja, a mesma Rede Globo que vocês crucificam - não que não se tenha razão. Comecemos a enxergar os tons de cinza, porque a vida não é só a dicotomia preto e branco, literalmente no caso.

Reflitam bastante antes de qualquer coisa, faz bem ao coração, sabe?

Bisous.

Imagem: Tami Williams - Lula Magazine S/S 2014.

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