sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Sobre Machado de Assis


Fiz o exercício de vir aqui para escrever este post coletando todos os comentários injuriosos que já ouvi e li sobre Machado de Assis e olha, foram muitos, cada um pior e mais injustificado que o outro. O último ouvi de um colega de profissão, que não identificarei, mas que se julga um grande leitor, por ter lido por volta de 50 livros, o que lhe daria discernimento completo para avaliar a obra machadiana como ruim, porque é difícil. Algo assim, gente, sei lá.

Meu filho de 19 anos leu mais de 400 títulos então eu nem entrarei no mérito da questão, porque minha outra filha de 17 leu muito menos e adora Machado de Assis. Então, né? Não é uma questão de ler muito ou pouco, é uma questão que tem mais a ver com os leitores de modinha, um mal da nosa época.

E gente pensará que enlouqueci de vez, porque Machado é reconhecido, na verdade um dos poucos escritores brasileiros reconhecidos por sua qualidade literária e gênio por críticos do mundo todo. É o único escritor brasileiro citado n'O Cânone Ocidental do Sr Harold Bloom, livro odiado, porém referência nessa coisa toda de clássico, cânone, etcetera coisa e tal. 

 É, Machado é tudo isso, e muito mais do que citações de nomes estrelados da crítica literária. Mas isso tudo não mudo o fato de que Machado é odiado e bastante odiado pelos leitores brasileiros. De fato, acho que só perde para José de Alencar. 

Desde o meu tempo de escola até os dias de hoje, já reuni uma série de idiotices que ouvi sobre Machado: linguagem antiquada, (cê jura?), linguagem datada (pior), difícil de acompanhar, de entender, conteúdo pobre (oi?), folhetim pra senhoura ou, novela mexicana. Essa última ouvi em sala de aula de introdução à filosofia. O professorzinho, um completo imbecil, contou uma lorotinha de que sei lá quem pegou um conto qualquer do Machado, assinou e levei para uma editora, que se recusou a publicar por achar o conto ruim. E que diabos de editora é essa que não descobriu que era Machado de Assis? É, porque as editoras pesquisam para evitar plágio, quer dizer, um estapafúrdio completo. Até hoje sinto ódio desse episódio, que aconteceu dentro do curso de letras. Fiquei tão indignada que saí de sala. Nos meus primeiros anos de faculdade eu era conhecida como a "Machadiana" então imagine aí o quanto este episódio foi terrível.

 Se procurar em forúns sobre literatura ou redes sociais tipo Skoob (que não consigo levar a sério, desculpe) sempre vai aparecer alguém para falar mal da literatura de Machado de Assis. E por quê? Primeiro porque Machado pede maturidade, não de anos vividos, mas de livros (bons livros) lidos. E algum conhecimento ou simpatia por filosofia. Antigamente, no meu tempo, o primeiro contato literário sério que se tinha na escola era com Machado (e Alencar). Uma garotada boba, acostumada com Turma da Mônica, super não compreendia os olhos de ressaca, dentre outras metáforas machadianas. Fora a coisa da alma, porque certos livros pedem uma certa inclinação e isso acontece com Machado, que pede um leitor devoto, sem medo dos abismos e do não compreendido. 

Quando li Machado me encantei justamente pelo o que não conhecia, pelo o que eu não conseguia entender, aquilo me fascinava. Anotava todos os livros e filósofos que encontrava em seus livros, como quem anota as dicas dum professor querido. Machado foi meu pai literário e eu tenho pena de quem o despreza ou odeia. Qualquer bom leitor reconhecerá a qualidade do texto machadiano. A coisa do gostar, isso depende do que cada um é feito. 

 Para ler Machado recomendo: 1ª uma boa coletânea de contos (sempre recomendo contos de um autor, porque serve como uma espécie de amostragem da escrita, é mais rápido e dá para se ter uma ideia do geral); 2ª Helena, o povo fala muito mal da fase romântica do Machado. A impressão que tenho é que não leram direito; 3ª Memórias Póstumas de Brás Cubas, porque é sensacional. Pirandello e Sterne versaram sobre o mesmo tema, mas Machado, ah Machado, leva a cousa para outra esfera. Seu Brás Cubas é encaixado no Realismo por mera convenção. Como um livro em que um defunto narra suas desventuras pode ser considerado realismo? Sabe como? ;) Meus livros antiguinhos do Machado.





Inté.

2 comentários :

  1. Gostei muito do que você escreveu sobre Machado de Assis. Acho horrível esse ódio que os leitores e infelizmente um bom número de escritores brasileiros têm não só de Machado de Assis, mas de todos o clássicos brasileiros. Em parte eu vejo essa rejeição aos clássicos nacionais como aquilo que Nelson Rodrigues chamou de espirito de vira-lata,que a mania do brasileiro super valorizar o que vem de fora e outra parte é preguiça de ler e interpretar texto.
    Mudando um pouco de assunto, gosto do seu blog. Também visitava seu antigo blog, mas acho que essa é a primeira vez que eu comento num blog seu.

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    Respostas
    1. Oi Clara, obrigada pela visita e por gostar dos meus solilóquios. Fiquei feliz da vida.
      Uma das justificativas por não gostar do Macahdo que mais me aborrecem em relação é que sua literatura é difícil. Poxa, quer leitura fácil, leia livro de receitas, mas aquelas edições Ana Maria algo assim, porque até o Larousse do chocolate tem seu nível de complexidade, né?
      Bisous.

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Sejam educados, seus lindos!

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