quarta-feira, 20 de maio de 2015

Eu. Augusto dos Anjos e a empatia



Eu fui uma adolescente muito esquisita. Primeiro, eu era bem diferente de quase todos os que eu conhecia que eram mais ou menos da minha idade. Eu, por exemplo, odiava forró. E música sertaneja, que todos amavam e, que por sinal, teve o início de sua fama no período da minha adolescência; coisas como 'é o amor' eram cantadas aos berros pelas esquinas no meu bairro, enquanto eu ouvia no meu toca-fitas Smiths e The Cure. Pois é. E lia Augusto dos Anjos.

Numa dita aula de inglês, sei lá por quê, o professor recitou Psicologia de um vencido, par cœur, e eu me identifiquei profundamente. Eu devia ter uns 14 anos. E lá se vão vinte e quatro anos de amor incondicional por Augusto do Anjos.


Eu, filho do carbono e do amoníaco, 
Monstro de escuridão e rutilância,
 Sofro, desde a epigênese da infância, 
A influência má dos signos do zodíaco. 

 Produndissimamente hipocondríaco, 
 Este ambiente me causa repugnância... 
 Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia 
 Que se escapa da boca de um cardíaco. 

 Já o verme — este operário das ruínas — 
Que o sangue podre das carnificinas 
 Come, e à vida em geral declara guerra,

 Anda a espreitar meus olhos para roê-los, 
 E há-de deixar-me apenas os cabelos, 
 Na frialdade inorgânica da terra!

Leiam.

Bisous.

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