domingo, 7 de agosto de 2016

Troféu



Dia desses me ocorreu que fazem quase vinte anos que fiz vinte anos, e que desde os vinte, já me sentia velha, porque eu já nasci velha. Talvez porque tenha herdado os sessenta e tantos anos que meu pai tinha quando resolveu que dava tempo pra ser pai de novo. Mas sempre fui meio gauche nessa vida, talvez um pouco diferente do Carlos, autor do tal verso copiado aqui, mas sim, sou gauche. Tudo comigo é meio desandado, é meio na contramão, o que sempre me atrapalhou. Aos vinte, aos trinta e nove, tanto faz.

Namorar, por exemplo, sempre foi um problema. Nunca me entendi bem com essa coisa de namorar. O que os moralistas imbecis não entendem, porque né, eu tenho uma penca de filhos, dois casamentos. Bem minha gente, isso não é sinônimo de ser alegre saidinha, eu até queria ser, morro de inveja de todas as moças alegres e saidinhas. O meu problema com namoros é que namorei pouquíssimas vezes na vida, por tempo curtíssimo, e pronto fui morar junto. Montar casa, comprar liquidificador, coleção de prendedores de roupa. Rotina, plantas, contas, traição e a separação com tudo o que tem direito, todo aquele dramalhão ridículo, e uma vida toda pra recomeçar, que eu sempre recomeço da maneira errada - diga-se de passagem - pra depois ter que recomeçar tudo de novo. É a fase que estou vivendo exatamente agora.

Interação com homens é sempre algo complicado, jovens, velhos, é complicado. Dia desses, passei por uma situação engraçada, quase constrangedora. Um homenzinho que pediu a outro homenzinho pra me perguntar se eu tinha alguém, porque eu sou charmosa e ele estava interessado. Como é que se comporta nessas horas? Minha vontade foi de sair correndo e gargalhando. A parte de rir aconteceu, confesso, porque foi engraçado. Um homem adulto, duns quarenta anos, pedir pro coleguinha intervir. Não sei. Isso não é coisa de intervalo de colégio? Ou de filme ruim, quando o garçom vem com uma bebida que a gente não pediu, mas alguém pagou, no caso um cara cafona? Enredo de filme tosco, que eu sempre mudo de canal. Mas não sei lidar com essas coisas, e não tive reação, além de rir. 

Da minha roda de convivência, sou a única solteira, e meio que tem uma pressão pra que eu saia desse limbo. O que essas pessoas não sabem, é que esse meu limbo é seguro e quentinho, estou muito bem aqui, justamente porque não seu lidar com essas interações, porque eu sou gauche

Quando eu tinha uns vinte e poucos, um homem de uns quarenta e tantos, que por sinal era casado e meu professor, dava em cima de mim de forma discreta, até começar a me seguir de carro, e aparecer em todos os lugares em que eu estava. Homens de quarenta com moças de vinte. A gente funciona como troféu dos quarentões. Com trinta, começaram a aparecer os garotões, que fantasiam com mulher madura, mas que ainda não está decrépita. A gente começa a funcionar como um troféu dos garotões. E olha só, a gente não é troféu, sendo gauche ou não. Mais novas, mais velhas, deixa quem quer ficar no seu limbo.

Inté.

Imagen: Minha chará maravilhosa.

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