quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Cliente mais



Eu morei em Brasília e lá o mercado do povo é o Planaltão. Nome sugestivo, porque né, há muito que o Planalto não é do povo, mas consciência social à parte, eu sempre amei supermercado. Acho que é por lembrança residual, do tempo do meu pai vivo, em que comprávamos no Romcy Montese e lotávamos dois carrinhos de compras. Ah, os tempos do Romcy Montese, na época da páscoa, com coelhinhos vivos, branquinhos, de olhos vermelhos e fitinha, também vermelha, no pescoço pra mode combinar. Óbvio que hoje eu sei que isso é crueldade, mas na época eu era apenas uma erê tonta, que chorava quando o pai matava as galinhas do quintal pra fazer ao molho pardo, que por sinal, ele mesmo colhia. Molho pardo, engrossado com fubá e sangue. Eca.


Mas o Planaltão era o máximo da minha vida social aos vinte e nada anos, já mãe de família e tal. Passeava pelas seções escolhendo com cuidado os produtos que cabiam no orçamento, sonhando em encher dois carrinhos de compras, como no tempo do meu pai.

No Rio e em Fortaleza, quase duas décadas, meu supermercado favorito é o Pão de Açúcar. Sim, é caro e eu sou pobre, mas é só saber escolher, coisa de dona de casa convicta. Sim, eu sou dona de casa e feminista, não há treta nem antítese nessa construção. É esse o espírito que impera nesse naco de terra curtida na salmoura do calor duzinferno, de luta com vassoura e com brados, não a PEC, a reforma do EM, Fora Temer e projeto neoliberal. 

E de todos os mercados elitistas que já frequentei, porque sou dessas que é pobre e vai a mercado granfino - porque dá licença, meu dinheiro compra como o dos bacanas, só não tanto quanto - o Pão de Açúcar é o mais simpático. Incrível como todos os funcionários são felizinhos. Ou aparentam. Acho que fazem curso pra ser felizes. Também quero. Mas sério, nunca vi um funcionário com cara amarrada, sempre sorridentes, solícitos e tal. Lembro que no Romcy, as moças eram tão tristinhas, acho que adivinhavam a falência. No Planaltão, era a cara fechada, tipo céu do serrado antes da tempestade. Pão de Açúcar não, lá é amor, é sorriso.

Quando chega sua vez na fila:
Funcionária (feliz) Pão de Açúcar - Cliente Mais, senhora? - e aquele sorriso.
Eu mesma - Não, querida. (derrotada)

Mas eu sou cliente mais: mais dívidas, mais fome, mais horas sem dormir, mais horas corrigindo provas e assistindo séries na NetFlix. Deposite o seu 'mais' aqui.

Lembrar de fazer meu cadastro cliente mais. Tipo nota de rodapé no final da Hora da Estrela.

Pois é.


2 comentários :

  1. Tem um pão de açúcar na esquina de casa e um Dia há dois quarteirões e um ladeirão. Adivinha em qual eu vou? Mas esses dias sei lá porque passei na frente do Dia e assinei meu atestadinho de pobre: agora sou cliente fidelidade de lá com direito a cartãozinho pendurado no chaveiro e tudo. E ainda não sou cliente mais do pão de açúcar.

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  2. O Pão de Açúcar era o meu mercado favorito porque era o mais perto da minha antiga casa. Mas já fui muito maltratada lá, de mau-humor de caixa a má-vontade na troca de produtos, já houve de um tudo. Acho que o pessoal de SP não deve receber o mesmo treinamento. ;)

    Fora isso, faça o Cliente Mais sim, compensa bem. Consegui descontos várias vezes com a soma dos pontos.

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Sejam educados, seus lindos!

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