Eu fui uma adolescente muito esquisita. Primeiro, eu era bem diferente de quase todos os que eu conhecia que eram mais ou menos da minha idade. Eu, por exemplo, odiava forró. E música sertaneja, que todos amavam e, que por sinal, teve o início de sua fama no período da minha adolescência; coisas como 'é o amor' eram cantadas aos berros pelas esquinas no meu bairro, enquanto eu ouvia no meu toca-fitas Smiths e The Cure. Pois é. E lia Augusto dos Anjos.
Numa dita aula de inglês, sei lá por quê, o professor recitou Psicologia de um vencido, par cœur, e eu me identifiquei profundamente. Eu devia ter uns 14 anos. E lá se vão vinte e quatro anos de amor incondicional por Augusto do Anjos.
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Produndissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Leiam.
Bisous.
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