segunda-feira, 31 de março de 2014

Os quatro cavaleiros da moda


{Da esquerda para direita dizem: Ronaldo Ésper, Ugo Castellana, Clodovil Hernandes, Dener Pamplona de Abreu.} 

 Esta imagem é simplesmente o máximo, creio que seja das reuniões do que viria a formar a base da Associação da Moda Brasileira, cujo objetivo na época seria lutar contra a evasão de divisas do ramo modístico e que contou com as figuras paradigmáticas destes quatro cavaleiros, cujos papeis e desdobramentos são bem particulares. 

 Esta era uma época que se falava, Dener falava aliás, de uma "Alta Costura brasileira" e da invenção da moda brasileira propriamente dita. Como se entende moda, enquanto feitura da coisa, mercado, desejo, poder, realmente tudo veio à baila com Dener, com talento, destempero e muita vontade de ser Paris. Mas prefiro pensar em uma "Alta Moda brasileira", pois Alta Costura, além de ser uma denominação que goza de proteção jurídica, possui uma série de pormenores que a caracterizam e que a colocam em uma distância enorme, até dos nomes mais caros da moda brasileira, gente que tem tecelagem própria e galera para separar botão no atelier. Mesmo assim, a Alta Costura está muito longe da gente. 

 Mas voltando aos nossos cavaleiros.

 Dener, paraense que veio ainda pequeno para o Rio, começou carreira ainda criança, na Casa Canadá, super importante à época. Adolescente foi para São Paulo e rapidinho abriu seu primeiro atelier, Dener Alta-Costura, que ficava na Praça da República e que, conforme seu progresso, por conta de prêmios e clientes abastadas, foi parar na Avenida Paulista, que seria o equivalente contemporâneo de abrir loja na Oscar Freire (São Paulo) ou na Visconde de Pirajá (Rio).

O Dener é uma figura importantíssima para nossa moda. A gente pode dizer que foi ele quem acionou o gatilho, deu luz à coisa toda. Na época que ela já estava brilhando, sendo o estilista (na verdade eles preferiam a alcunha de figurinista, mas o povão os chamavam de costureiros, porque as pessoas entendiam que moda era roupa e roupa era feita por costureiros) exclusivo da primeira dama e ganhando concursos que o Dior participou, a Alta Costura francesa estava tomando novo fôlego, com novos nomes, em algum lugar entre o tempo e o espaço, pelo papai e organizador da Couture, o inglês Charles Frederick Worth. 

 Mas Dener teve muitos problemas, tanto em relação a sua vida particular quanto em relação a sua vida profissional, porque o luxo (como ele dizia) é o máximo, mas pagar as contas é muito mais importante. A verdade é que, talento nenhum resiste a falta de organização, em todos os sentidos (vide Lacroix). Super recomendo a leitura de Dener, O Luxo, autobiografia que elucida um monte de coisas da personalidade do Dener.

 Clodovil, é a minha figura favorita. Sob esta figura, resguardo todas as minhas memórias afetivas por moda (e a novela Ti Ti Ti também), eu que tive como uma grande maioria de pessoas apaixonada por moda, a mãe costureira de singer zig-zag, que servia para cerzir as roupas da família e também para fazer vestido de São João, 

Se você não assistiu Tv Mulher, não lembra das propagandas dos esmaltes Colorama, Clodovil gargalhando ao lado de um monte de "manequins" (como chamavam as modelos na época) você não me entenderá. Quando eu consegui meu primeiro emprego formal, aos 16 anos, como figurinista (um zé mané que fica desenhando roupas feias para clientes feias que compram tecidos feios) das Casas Esplanada em Fortaleza, mesmo vestida daquele uniforme péssimo (saia lápis verde bandeira-horrível, camisa de botão verde cana-triste, coque preso com rendinha e laço preto-detestável, meia calça cor de pele-lágrimas e um sapato de salto baixinho preto-tipo sou carola, tudo horroroso; só que eu tinha meus truques, quando o gerente não estava, eu bem trocava o sapato por meu all star risco de giz e sempre ao meu lado, a fiel mochila jeans cheia de botons e desenhos meus, tipo caveiras, mortes, fantasmas e bruxas, que já diziam a que eu vim, né?) eu sempre levava a memória do Clodovil desenhando modelos (croquis) na Tv Mulher. Ele e o gibi do Sandman eram a melhor companhia que este coração anarcofashion podeira desejar. 

Bisous.

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