segunda-feira, 31 de março de 2014

Moda brasileira, sua erê boba



Tenho minhas dúvidas acerca dos motivos que fazem a moda carioca ser encarada em um segundo plano, ainda mais quando a gente sabe que, nem faz tanto tempo assim (até porque a moda brasileira é uma erê brincando de adulta) a moda carioca era reconhecida, estimada e até certo ponto vaguarda, perante uma São Paulo convencional, para não dizer cópia da moda francesa.

 Depois de muito pesquisar, consultar pessoas que entendem muito do assunto e me lembrar de algumas questões levantadas nas aulas de história da moda brasileira (que assisti como ouvinte do curso de Estilismo e Moda na universidade em que fiz Letras) cheguei à conclusão de que o Rio não é menosprezado, pelo menos não como eu pensava, mas de uma outra forma, que, para o bem e para o mal, existe. 

Mas o certo é que o Rio não é deixado em segundo plano, porque o cenário modístico carioca é lucrativo. Esta nação de que a moda que vale à pena é a feita em São Paulo é uma imagem que vem sendo criada desde o Phitoervas Fashion (dai o Morumbi Fashion Brasil e dai o SPFW), arrematado pela Santa Marcelina, pelo SENAC SP e pela industria têxtil brasileira, que meio que apostou as fichas na terra da garoa, porque no idos de 1990 a coisa começou a ficar feia na terra da bossa nova. Falências, perca de divisas e credibilidade no setor, fizeram as coisas mudarem de rumo. 

 Contudo, a moda carioca que, revolucionou os biquinis, a malharia, as estamparias, que criou o maldito, mas internacional fio dental (e a canga também, né?) o lifestyle carioca, que todo mundo quer consumir, já havia ganhado o mundo como a referencia maior do estilo brasileiro. No mercado internacional o que pesa e o que as pessoas lembram é da Carmen Miranda e a república das bananas, do beachwear, das legítimas havaianas e isto tudo é muito Rio de Janeiro. 

Por mais que, numa hegemonia, o mercado de luxo pensado e criado no Brasil venha de São Paulo, é o Rio até hoje que puxa o imaginário da moda brasileira, é o que o 'gringo' quer ver, e estamos falando de 50, 60 anos de imaginário. 

E isso tudo é muito irônico e me faz olhar diferente para o nosso cenário modístico, vendo engrenagens e um teatro de marionetes, que apresenta uma imagem que estão tentando construir, 'da moda brasileira para brasileiros', quando no exterior somos a mesma coisa carioca feelings faz mais de meio século. Dai, ao invés de ficar preocupada com um suposto boicote à moda carioca (que até existe mesmo) fiquei mais preocupada com o estado estanque das coisas. Ou seja, o buraco é bem mais embaixo. 

 Acho que mais do que relembrarmos o grupo Moda-Rio (que teve como objetivo melhorar o espaço de divulgação dos trabalhos dos criadores de moda do estado da Guanabara, mas por uma série de fatores até cresceu, até apareceu, mas render que é bom...), que era o que eu queria com a ideia inicial da postagem, é melhor tentar entender que, por trás do encantamento da feitura das coisas, da moda que expressa, do consumo que leva ao prazer, de fazer looks e achar lindo o desfile de fulaninho, era bom ao menos a gente tentar sorver direito como são feitas as coisas e o que querem que a gente entenda e compre. Aquela diferença entre ver e enxergar, sabe? Pois é. 

 Bisous. 

 Imagem: Leia Diniz e sua icônica figura, carioca (fluminense).

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