sábado, 26 de abril de 2014

Sábado à noite com Virginia

Verde


Pingentes de vidro pendem do ar. A luz desliza pelo vidro e forma uma lagoa de verde. O dia inteiro os dez dedos do lustre gotejam verdes sobre o mármore. As plumas dos periquitos - seus gorjeios estrídulos - afiadas lâminas das palmeiras - verdes também; verdes hastes cintilando ao sol. Mas o áspero vidro goteja no mármore; lagoas pairam sobre a areia deserta; camelos cambaleiam ao atravessá-las; juncos as margeiam; ervas silvestres obstruem o caminho; aqui e ali uma floração branca; o sapo agita-se; à noite as estrelas coagulam-se hirtas. Vem o entardecer, e a sombra varre o verde sobre o consolo da lareira, a eriçada face do oceano. Nenhum navio vem; ondas sem rumo flutuam sob o céu inócuo. É noite; as hastes gotejam borrões de azul. O verde se vai.




  

Azul


O monstro de nariz arrebitado emerge da superfície e esguicha por suas grossas narinas duas colunas de água que, branco flamejante no centro, derramam uma fímbria de espumas azuis. Afagam de risco azul o encerado negro de sua pele. Lançando água pela boca e narinas canta, impetuoso contra a água, e o azul se fecha sobre ele inundando os seixos polidos de seus olhos. Atirado à praia ele jaz, cego, obtuso, soltando estéreis escamas azuis. Seu azul metálico tinge o ferro desbotado da praia. Azuis são as costelas de um barco a remo em destroços. Uma onda encapela-se sob os sinos azuis. Mas a catedral é diferente, fria, carregada de incenso, desmaiado azul nos véus das madonas.








Trechos de escritos puro fluxo de consciência da querida Virginia Woolf.

Imagens: 1. Secret gardens; 2. L'Officiel; 3. Frida; 4. Desejo e Reparação; 5. Tim Walker; 6. Dior; 7 e 8 Tim Walker; 9 e 10 Vogue Paris.

Bisous.

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