sábado, 19 de julho de 2014

Alexander McQueen - Plato's Atlantis - e o outro lugar


Postagem de outubro de 2009

Quando penso sobre a criação de McQueen, tanto a Plato's Atlantis, como a carreira toda, que vem em uma crescente linha criativa, talvez difícil e perversa para ele mesmo, tão poderosa, cáustica, transformadora que abre lugar (vários) para que se pergunte, como ainda há quem duvide deste outro lugar da moda como arte? 

 Óbvio que nem todos os criadores do "mundo da moda" chegam lá, nessa expressão do interior e para além, a expressão das coisas que são externas e internas ao mesmo tempo, e por isso são compartilhadas por todos, muito além de uma experiência íntima. Por exemplo, a dor é uma sensação que pode ser física ou espiritual, ambos os processos desencadeiam o mal estar orgânico, que de uma forma geral todos sentem, daí sujeito a empatia e até, em casos de almas sensíveis, o compartilhamento desta dor. Ou ainda mais profundo, fazer balançar e entender algo que não nos é comum, como a loucura, como é o caso do quadro da automutilação de Van Gogh. 

 Pode-se afirmar que McQueen precisa de outros recursos para fazer esta roupa transcender o seu feitio de apenas roupa cara, da semana de moda parisiense, elitista e excludente. Ele precisou do vídeo da Raquel Zimmermann nua, em meio a areia, se retorcendo, de maneira plástica, com serpentes lhe trançando o corpo. Ele precisou de todos os efeitos de luzes e da tela no fundo da passarela, refletindo como em um olho d'água a sua coleção. Precisou dos robôs/câmeras gigantes indo e voltando, que complementaram o efeito sinistro da própria coleção, em que mulheres submergem como monstros aquáticos. São todos recursos externos à feitura das peças da coleção. 

 Acontece parecido, por exemplo, quando se quer comparar poesia e música. A academia proíbe e prova "por a mais b" que letra de canção nenhuma pode vir a ser comparada com poesia, pois poesia é poesia e música é música. A tautologia se faz necessária. A poesia não precisa de música, instrumentos, acordes para ser poesia. Poesia possui melodia interna, própria, criada nos seus versos e combinações (às vezes descombinadas), sem ajudas externas. A Música, para ser música, precisa dos instrumentos, cordas, sopro, percussão, que lhe dão vida. Cada um com seus recursos. Por isso uma não pode ser comparada a outra. Por mais poética que lhe soe carinhoso de Pixinguinha (para mim também), ela não é poesia, é apenas uma linda letra de uma linda canção.

 Mas a gente pensa e sente assim, do jeito que "Academias de Letras" querem?... E a gente segue teimando: moda e arte; entrelinhas; à margem; o abismo. 





 Bisous. 

 Imagens: Style.com e Coutortre.

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