quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Depressão de Von Trier - Melancholia



Da tal trilogia da depressão é o meu filme favorito e também o mais difícil de lidar, falando por mim. Melancholia é um filme e tanto, e não é fácil.

É o mais lindo, o mais plástico e, o mais palatável dos filmes de Von Trier. Digamos assim. E nem é tão tragável assim, porque estamos falando de depressão, crua, terrível, impenetrável domínio da depressão, em que viver não faz sentido. E nós somos criaturas fadadas à vida, quando nos tiram isso, o gosto de viver, estamos deslocados na existência.

Durante a primeira parte, temos Justine e seu casamento, a fatídica cena do casamento em que, dentre outros acontecimentos, o que mais angustia é o mais banal: o noivo fala que comprou um terreno e, que um dia ele e Justine poderão plantar macieiras, para em outro lastro de tempo, quiçá, vir os balanços. Seria uma construção tão reconfortante, se já não soubéssemos que  todos ali morrerão, ou já morreram, assim como toda a humanidade - afinal, o filme já começa com a colisão do lindo e mórbido planeta azul (ou bleu, que em inglês além de cor é também tristeza) Melancholia. Essa coisa de alguém tentando te consolar, "tudo ficará bem" ou "tudo vai melhorar" ou "vai passar" ou ainda "tenha fé". Em quê? A única dessas sentenças lugar comum que procede no fim das contas é a de que "o tempo leva tudo", porque leva mesmo, inclusive um planeta inteiro.

Daí temos Claire, a irmã mais velha, angustiada pela presença do planeta, que ela teme ser um perigo. Ela teme pelo filho. Mas o marido de Claire, John, como bom macho provedor, fala que "tudo ficará bem", apoiado por todos os cientistas que dizem ser perfeitamente legal, bacana e correto um planeta gigante se movendo contra a órbita do sistema solar, se aproximando da pequerruncha terra. É tão absurdo, né? É ficção. E  ficção não tem e, às vezes, nem deve ser verossímel. Mas tem mais aí, é Von Trier nos dizendo: parem de acreditar cegamente em tudo o que dizem as vozes autorizadas. Lembram da raposa em o Antichrist? Chaos reings.

E é isso mesmo, minha gente, o caos reina. O cientistas estavam errados. O marido, macho provedor, estava errado. E, num instante se mata, deixando mulher e filho ao sabor do próprio desespero. Pobre Claire, que, até o fim - que chegará em breve - não encontrará consolo algum, nem para si, nem para o filho. A irmã Justine, deslocada na existência, quer mais é que tudo exploda. O fim de tudo é o consolo de Justine, porque viver não faz sentido. O planeta Melancholia funciona como uma metáfora da própria depressão em si, que traga toda a vida, consumindo-a num instante.

Inté.



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