quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Depressão de Von Trier - Nymphomaniac



"My father found his soul tree, but I've never found mine. 'You'll know it when you see it' it's what he said". Nymphomaniac: Vol. II (2013) Lars von Trier


Nesta minha empreita de trazer aqui a trilogia da depressão, acho que ficou claro que não estou fazendo análise e crítica de filme, é mais um apanhado de achismos a partir da minha experiência como expectadora, que se arrisca e se joga no abismo, sem as mãos fortes (dum pai fraco), roubando a metáfora do próprio Nymphomaniac (ou Ninfomaníaca).

Uma coisa que notei na maioria dos textos que li por aí, ou dos comentários sobre o filme, é que muita gente boa não gostou da obra. Olha, e é bem fácil se aborrecer com as demandas estéticas de Von Trier, mas vocês só me entenderão se me lerem até o final. Eu acho, só acho.

Tratando Nymphomaniac, tanto volume I e II, como uma unidade, porque os dois filmes funcionam juntos e em contraste, a gente percebe que o filme choca pelos excessos e exageros. Quando Von Trier anunciou que faria um filme pornográfico, muito se especulou, porque né, já tínhamos em mente a cena inicial de Antichrist. E ele cumpriu, fez um filme pornográfico. Se a gente analisar, a palavra pornografia, que tem origem grega e significa estudo sobre prostituição, a gente consegue entender melhor alguma coisa, porque com Lars von Trier tudo tem um propósito. Para a maioria avassaladora das pessoas, a personagem central de Nymphomacina, Joe, é uma prostituta. Até a própria Joe se julga uma pessoa má ou uma prostituta. Repare que prostituta aqui não é a profissão, mas a mulher que sede a todas as formas de desejo sexual: "fill all my holes". Lacan te entente, Joe. Mas e daí, por que a Joe é assim, ninfomaníaca? E isso importa? Também gosto de pensar em pornografia por outro viés, pelo viés da coisa explícita, que nem sempre denota o sexual, como por exemplo, a cena do exame ginecológico. Poucos segundos que para mim, foram os mais difíceis  de aguentar nas quase 5 horas de filmes.

Ok, Joe é tarada, uma ninfomaníaca, uma viciada em sexo, que pouco se importa em separar um casal com três lindos filhos lourinhos (e ela nem queria separar ninguém, ela só queria transar loucamente). Mas Joe é profunda e completamente vazia e Nymphomaniac é isso, é um filme sobre vazio. O sexo kamasútrico, os bilhões de falos, vaginas, pêlos pubianos e excreções servem para anular a sensualidade, caso vocês não tenham reparado.

Mas há na tessitura de Nymphomaniac um algo que me inquietou, uma espécie de mensagem ou código, um olá para a audiência, para nós, público de Von Trier, que em outros filmes aparecia mais discretamente e no filme de Joe grita um olá em forma de Seligman, aquele "rapaz ouvinte", tão bacana, que ajuda nossa Joe, levando-a para casa, fazendo-lhe um chá e que parece lhe ouvir e tentar mostrar que não, ela não é má. Seligman tão sereno, culto, racional ou melhor, intelectual. Uma pessoa acadêmica, como o marido do filme Antichrist, como John de Melancholia, como a gente, que assiste os filmes de Von Trier e faz conjecturas. Talvez não por coincidência, o ator que faz Seligman é o mesmo ator que faz Chuck, o primeiro personagem a estuprar Grace em Dogville. Seligman somos nós (oi, Flaubert!), porque ninguém presta na paleta de Lars Von Trier.

Funciona assim, você que está aí, analisando o quanto que a humanidade é podre etcetera coisa e tal, através dos filmes de Lars Von Trier, você cara pálida, você também não presta e se você se incomoda, o incômodo vem por reconhecimento. Desde achar que Antichrist é uma aberração - porque bruxa é para queimar mesmo - Melancholia é insípido - porque os sofrimentos dos outros não lhe dizem respeito - e que Nymphomaniac é um absurdo, porque né, vislumbrar o oco existencial é para os iniciados.

Lars von Trier, filho de quenga.

Inté.



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