quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

50 tons de cinza (abuso)



Faltam dez dias para a estreia do filme 50 tons de abuso cinza baseado no livro homônimo. E daí que eu acabei de entender que a tranqueira estreará dia 14 de fevereiro, valentine's day, ou o dia dos namorados (12 de junho é só aqui, ok?). E isso é um absurdo. É revoltando e me dá asco.

Até já comentei alguma coisa com algumas pessoinhas, por conta do fenômeno fanfic, que, de certo modo, acho bacana, porque trouxe à tona uma geração que lê muito. Não necessariamente lê bem. E escreve, inspirado pelos ídolos, geralmente escritores YA. E o tal dos 50 tons de abuso cinza é uma fanfic da série de livros dos vampiros fadinhas, digo do Crepúsculo da Stephanie Meyer. E eu nunca pensei que eu diria isso, mas eu prefiro Crepúsculo e seus vampiros fadinhas.

 E eu li as duas séries. Da Stephanie Meyer eu li os três livros. Já da E. L. James, vulgo autora da outra série, confesso que li os dois primeiros. E o segundo eu li superficialmente, porque simplesmente não consegui terminar. Asco, sabe? Confesso ainda que já estava com asco desde o primeiro livro, que apresenta Anastasia e Mrs. Grey.

Eu posso afirmar que sou filha da contra-cultura, que tive meu quinhão de experimentações, não sou puritana, contudo, 50 tons de abuso cinza me incomodou profundamente. Além de todos os problemas com a coisa da submissão, da humilhação, da leitura desvirtuada das práticas de sado masoquismo (que me incomoda. é a minha opinião) a leitura me deixou um ranço, um amargo que eu não entendia muito bem, até ler um artigo que relacionava a história do livro à pedofilia. Aí aquela coisa que me incomodava tomou forma e me fez muito mal.

50 tons de abuso e agora sem o cinza. Sim, abuso, o livro fala de abuso de um homem mais velho, que é sempre descrito como "poderoso", contra uma menina, que é apresentada no livro com apenas 21 anos, ou seja, maior de idade, mas que sabemos, foi inspirada na personagem de Crepúsculo, Bella, que tem quantos anos mesmo? Entre 16 e 17. E na verdade, Bella soa muito mais pueril. Não sei onde, mas li que Crepúsculo parecia o diário de uma adolescente idiota, cujos hormônios estão explodindo, como se uma menina de 13 anos estivesse por trás da escrita. É quse a mesma sensação em 50 tons de abuso cinza, só que piorada.
Adendo: fora que até em Crepúsculo já tem algo de muito estranho naquele imprinting com um bebê. Pensando bem, eu não prefiro Crepúsculo porcaria nenhuma.

Mas voltando.

E na verdade, Anastasia parece muito muito mais jovem em sua psiquê. Virgem, intocada, quase imaculada, beijara apenas dois rapazes. E só. Algumas vezes a melhor forma de se esconder alguma coisa é deixar à vista. Como mencionei, Anastasia não tinha nenhuma experiência sexual. Nenhuma. Inocente.  A narrativa, que é a voz da Anastasia conversando com o leitor, é a voz de uma menina. É inconfundível. Há muito pouca maturidade emocional e absolutamente nenhuma maturidade sexual. Ela é seduzida por este homem, da mesma forma que um pedófilo seduz uma criança. Estamos lendo a sedução de uma menina por um pedófilo. Ela é quase completamente impotente. Ela é ingênua até mesmo para uma adolescente, e certamente muito mais ingênua do que uma estudante universitária. Ela é incapaz de sequer tomar as mais simples das decisões do dia a dia e deve ser dita o que fazer por seu agressor, e este por sua vez gasta muito tempo e esforço convencendo-a de que isso é realmente o que ela quer. Nojo.

Estamos lendo pornografia infantil. Remove a idade falsa da menina, que não tem base na realidade, e o que estamos realmente a ler é o abuso de uma menininha.

 A personagem principal é descrita com tranças, seu vocabulário "holy cow" parece que saiu da boca do Bart Simpson. Não sabe operar um computador, mas é, supostamente, graduanda em jornalismo. Como? Descreve pula-corda e piruetas. Tem até um amigo imaginário, a sua "deusa interior". Sente vergonha, é espancada e banhada em óleo de bebê. Está sempre sobre ordens do que comer, do que fazer. E além de todas essas evidências, há o fato de que o personagem masculino, Mrs. Grey, é ele próprio um produto do abuso sexual nas mãos de um pedófilo. Sim, eu não li a trilogia completa, mas eu sei do que se trata. 

A menina cujos pensamentos ouvimos a medida em que é abusada, reconhece este aspecto do agressor, mas aparentemente é muito ingênua ou não quer perceber que ela continua esse ciclo de abuso, o que reforça a ideia de que ela é realmente apenas uma criança.

E você que leu 50 tons de abuso (sim, abuso!), e está na contagem regressiva para lotar os cinemas nesse novo e nefasto fenômeno mundial, procure ajuda. Sério e por favor.

Até mais. 

Imagem: Mãe morta de Munch.

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