sábado, 18 de abril de 2015

A Taverna e a Lira de Álvares de Azevedo



Quando li Álvares de Azevedo pela primeira vez, eu era muito jovem, bem mocinha, mal completos quatorze anos, ávida por literatura romântica, ainda mais com doses góticas, como o era a Lira do Álvares de Azevedo. Minha relação com o autor e a obra era de tamanha ingenuidade e identificação, que me vi enamorada por suas idealizações e passei alguns anos assim, suspirando nos peitoris da minha casa, implorando que algum parente morresse para ir ao enterro no São João Batista, local adequado para ler algum poema dos Vinte anos.

Bobo, né? Pois é.

Ao lermos a obra de Álvares de Azevedo, sem a maturidade devida, o que parece saltar aos olhos é a escrita dum adolescente e suas questões ingênuas, que deixam antever a imaturidade de um escritor marcado pela morte precoce. O amor à mulher inacessível, que transforma a relação do eu-lírico com a figura feminina em algo que extrapola a realização possível, e a consequente inexperiência sexual, relacionada também a uma permanente tensão moral entre o desejo erótico e a idolatria à pureza imaculável da musa. Mais tarde, algum professor toca no assunto do mal do século e da influência de Lord Byron.

Hoje professora de literatura brasileira, depois de ler Sílvio Romero, os escritos de Bandeira e Mário de Andrade sobre o Romantismo, e da Formação da Literatura Brasileira por Antonio Candido,  Álvares de Azevedo é outro pra mim. Mesmo que a associação com o São João Batista e a leitura de seus poemas sob uma castanheira ainda me divirta, de fato, hoje observo Álvares de Azevedo como resultado de sua condição e sensibilidade juvenis. Uma leitura entre a vida do poeta e sua obra é quase obrigatória, porque é um forte vínculo. Como se considera a poesia de Azevedo uma poesia de adolescente, natural que seja também uma poesia de cunho autobiográfico, que expresse as angústias dessa fase da vida. 

"E sabemos que se a obra de um clássico prescinde quase por completo o conhecimento do artista que a criou, a dos românticos nos arrasta para ele, graças à vocação da confidência e a relativa inferioridade do verbo ante a insofreada necessidade de expressão" (CANDIDO, 1981, p. 178).

Bisous.

Imagem: Dum Flickr incrível.


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