quinta-feira, 2 de abril de 2015

Guarani e Lucíola de José de Alencar



Continuando as resenhas sobre os 100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira, passamos para José de Alencar que, como sempre afirmo, amo muito e parece que estou sozinha nesse meu amor, porque se existe uma verdade sobre leitores da literatura brasileira, é que José de Alencar é odiado entre esses leitores. E não leitores. Sim, porque é muito comum a criatura humana nem ao menos ter lido nada de José de Alencar, ou mesmo ter lido meia dúzia de páginas, e já declarar o seu ódio para vida toda.

E por que disso? Porque faz umas gerações que José de Alencar é vítima de professores de literatura ruins, que ensinam os alunos a temerem sua escrita descritiva, os adjetivos e a linguagem poética. Fora que Alencar ainda carrega o peso do nome, de uma família política que à época fazia oposição ao Império, e por conta disso, houve toda uma espécie de boicote aos seus escritos, mais tarde associados à elite, como um escritor reacionário e de direita. E parece que isso passou de geração em geração. Tudo bem que o Romantismo é a estética da burguesia, mas José de Alencar está acima dessas querelas.

Aos livros.



Guarani é um romance de sua fase indianista, em que o índio é idealizado conforme os ideais românticos. Peri é praticamente um cavaleiro medieval de penachos. Peri e Cecília, respectivamente um índio e a filha de um fidalgo português da época do Brasil recém-descoberto. Peri é um índio com características heróicas que, por ter salvo Cecília da morte, ganha a confiança de sua família. Porém a casa do pai da moça é atacada por selvagens, pois o irmão de Cecília acidentalmente mata uma selvagem e Peri faz de tudo para salvá-la, não só disso, mas também do pavoroso Loredano, um ex-padre que cobiça a moça para si. No final, Peri foge com Cecília para salvá-la e os dois ficam vivendo na mata, formando o povo brasileiro (que nem Iracema e Martins do livro Iracema). É só isso? O enredo em si é. Os livros da fase indianistas são uma fofura, cheios dos ideais românticos que me agradam como empreita artística. Peri, gente. Todos querem Peri, um fofo.

Já Lucíola é um típico romance urbano, de folhetim, José de Alencar era mestre em romances de folhetim. 

O que é romance de folhetim, Tia Lilibete? Romance de folhetim  era um romance (ou novela, livro de contos) que saía em fascículos (ou folhetins) nos semanais do jornaleiro. Pois é, os livros saíam em capítulos, uma vez por semana. Lembra um pouco o capítulo das novelas de televisão, mas só na coisa da espera, não há meios de se comparar em outra esfera. 

Mas voltando: Lucíola, ou Lúcia ou Maria da Glória (o nome Lucíola vem de uma espécie de vagalume e para saber mais, leia o livro, seu lindo, e verá José de Alencar descrever o porquê). Lúcia é o nome de cortesã da nossa protagonista. Sim, ela era uma espécie de prostituta de luxo, rameira, puta, se preferirem. Uma puta entediada. Adouro. Ela faz coisas bem feinhas, tipo, jogar dinheiro aos pobres e, enfadada, observá-los brigando pelo dinheirinho. Ou quando ela vai consumar o ato em meio a natureza ou, "dar uma" na moitinha. Sim minha gente, José de Alencar. Vocês não sabem o que estão perdendo rs. 

Óbvio que, como obra do Romantismo, nossa protagonista de caráter duvidoso tem um porquê, tem a irmã coitadinha que ela sustenta, sua vida foi uma desventura só, tadinha. Faz parte, gente. É Romantismo. E, tem o lado da crítica social que José de Alencar já está por ali, pincelando um olhar, quase Realista. Mas Lúcia se arrepende, feito Madalena arrependida, que se redime. Para mim, Lúcia será sempre a quenga maravilha, a mais rica da cidade, que gastava todo o dinheiro dos maridos das mulheres de bem. 

Leiam José de Alencar, minha gente. Mas leiam de verdade.

Inté.

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