quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Garota Exemplar




Quem me conhece direitinho sabe que sou uma pessoa com posicionamentos de vida que ficam bem claros, como por exemplo, minha orientação socialista (lembrando que hoje em dia isso implica em afirmar que não, não queremos "roubar" o dinheiro dos ricos, mas super concordamos que nós, pobrinhos, devemos ser menos pobrinhos e que teríamos o direito de viver uma vida bacana), a proteção de animais e minha militância feminista. E foi nesse último que Garota Exemplar mexeu, justamente quando um monte de resenhas pipocou por aí sobre o filme, que teria um falso momento de empoderamento feminino, mas que é substituído por uma perspectiva misógina. Daí que fui conferir, e daí que não é nada disso. Garota Exemplar não é um filme feminista, tampouco misógino, é um filme sobre demência, sociopatia, psicopatia justamente o tema das postagens de Halloween dessa semana.

Existem praticamente dois filmes ou até mesmo três, dependendo da sua perspectiva. O primeiro filme ou a primeira parte é aquela que apresenta um homem casado, Nick Dunne (Ben Affleck), que precisa recorrer à polícia depois de chegar em casa e perceber que sua esposa Amy (Rosamund Pike) desapareceu. Conhecemos o personagem, temos uma introdução que nos apresenta um sujeito desagradável, por assim dizer, e cheios de segredinhos obscuros com uam relação estranha com a irmã. 

David Fincher gênio trabalha muito bem o enredo do livro adaptado para o cinema. Brinca com isso durante essa primeira parte, alimenta o caráter duvidoso do protagonista e deixa o público fazer seus próprios julgamentos. Possivelmente, o espectador irá morder a isca e questionará as atitudes de Dunne. E na medida em que o roteiro se desenvolve, e a investigação avança, vamos conhecendo mais da vida do casal e se cria quase a certeza de que ele é mesmo um assassino, e está apenas fingindo ser um idiota, como na cena cômica, e que diz muito sobre a personagem, em que ele decifra a primeira pista deixada por sua esposa com uma expressão de quem acabou de descobrir que ainda tinha cereal colorido no fundo da caixa.

Numa estratégia brilhante do roteiro, a detetive Rhonda Boney (Kim Dickens) retruca seu companheiro sedento pela prisão de Dunne, dizendo que está conduzindo uma investigação e que precisa de provas para poder acusar alguém de assassinato. Paralelamente, a mídia cobre o evento da forma mais agressiva e sensacionalista possível, pois para os programas de televisão, o marido bonitão matou a esposa para ficar com a herença. 

Já o segundo filme, ou segunda parte, desconstrói todo o nosso castelinho de areia. A partir da narração de mais uma passagem do diário de Amy, assistimos a uma cena em que a própria aparece revelando seu engenhoso truque. Ela fingiu tudo para incriminar o marido, após descobrir que seria abandonada. Ou seja, não seria errado afirmar que encontramos um filme de vingança. E a motivação? O mote da mulher abandonada, enciumada, capaz de qualquer coisa. E Amy literalmente é capaz de qualquer coisa, mesmo. E essa é a parte mais deliciosa do suspense. Amy, uma verdadeira artista, dotada de inteligência superior, antecipa os movimentos de todos os envolvidos no seu plano maligno. O plano poderia quase perfeito da princesa mimada, vingativa e manipuladora.  Amy arma tudo, desaparece, engorda e vai viver no meio dos white-trash (e a cena da cuspida rs?). Mas, como deixei claro, é um plano quase perfeito. Após ser roubada e agredida pelos vizinhos white-trash, ela se volta justamente para aquele que sempre manteve por perto, para a sua própria segurança e conveniência, seu antigo namorado Desi Collings (Neil Patrick Harris). Amy sabe que mantém o sujeito refém do seu amor, e não hesita em acabar com a vida (de novo, literalmente) dele para voltar para os braços do marido, em outra reviravolta surreal do roteiro, daquelas que nos deixam boquiabertos com o tanto que a personagem é insana.

Um dos pontos altos de Garota Exempla é a dinâmica entre o casal e as transformações sofridas por Dunne. Ele começa decidido a se divorciar, e perder tudo de bom que a convivência oferece, então passa a realmente ter dúvidas sobre o que deseja. Dunne é um homem sem personalidade, e que desprovido de amor próprio, se deixa manipular pelo truque ardiloso de sua esposa, que facilmente se torna a maior mentirosa da história do cinema em 2014, e volta para a casa “apaixonada” pelo homem que viu dando entrevistas apaixonadas na televisão. Ou seja, para os dois não existe uma noção muito certa do que é errado. Vale apenas a própria vontade, independente das consequências, ou seja, ambos são sociopatas.

Depois de toda a minha experiência de vida, realmente paixão é uma coisa doentia, e bem, Garota Exemplar é uma obra que captura isso com perfeição. Garota Exemplar é um filme que pode se entender como uma obra romântica doentia. 

Boo.

Um comentário :

  1. Eu ainda não vi esse filme, mas achei a premissa bem interessante. Uma coisa que eu não gosto atualmente é a mania de tentar censurar as coisas com base no politicamente correto. Não vi nada de misógino na sinopse desse filme, até porque nós mulheres somos seres humanos iguais aos homens pro bem e pro mal.

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Sejam educados, seus lindos!

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