sábado, 24 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Violência Gratuita



A primeira versão que assisti foi a mais recente, de 2007. Depois procurei a versão original, de uma década antes, mas ambos têm a direção do incrível Haneke e são o mesmo filme, mudando apenas os atores.

Fica a dúvida das razões pelas quais Haneke ter decidido refilmar Violência Gratuita dez anos depois, em 2007, nos Estados Unidos, como disse mudou um quadro ou diálogo sequer, apenas os atores (Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth, Brady Corbet, Boyd Gaines, Siobhan Fallon e Devon Gearhart entram no lugar, mas atuando igualzinho). Até mesmo as locações são cópias fiéis americanas dos cenários europeus. É o tipo de produção restrita aos cinemas de arte e circuitos alternativos, 

Haneke trouxe até nós uma combinação da mais fria mente humana com a crueza das emoções, neste caso aquilo que um ser humano é capaz de fazer por pura diversão, trazendo até um registo tenebroso e chocante como este Funny Games ou Violência Gratuita, é somente um jogo psicologicamente forte que desperta aquilo que mais desumano tem o ser humano. A crueldade das imagens são substituídas por momentos ocultos que transmitem uma carga psicológica no espectador, neste caso não é preciso ver gore ou terror puro para nos sentir assustados, basta saber que a premissa do filme podia acontecer a qualquer um.

 Tudo começou com um simples pedido de ovos e que acabou como um pesadelo sem medida para uma família, que passava férias na sua casa de campo, quando dois jovens cheios de más intenções põem à prova a seu aficção por jogos, digamos, não convencionais. O filme conta com dez personagens, mas são apenas cinco que nos captam a atenção durante todo os 100 minutos de duração. 

No filme, dois jovens simpáticos apresentam-se a uma rica família em férias como convidados de seus vizinhos. Não tarda para que suas sádicas e verdadeiras intenções se desfraldem. As comparações com o clássico Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) de Stanley Kubrick são frequentes, mas um tanto exageradas. Há, sim, uma homenagem escancarada ali ao personagem Alex, de Malcolm McDowell, porém a intenção de Haneke não é copiar, mas questionar a própria platéia, que atua em Violência Gratuita como cúmplice, em uma escancarada crítica ao cinema de violência. Para fazer-se entender, Haneke dá as costas para um dos mais básicos princípios do cinema: a transparência. Trata-se da regra segundo a qual o cineasta e suas intenções como realizador devem dar um passo atrás para não quebrar a ilusão da Sétima Arte. Prova dessa ruptura são os momento em que o personagem Paul conversa diretamente com o público, trazendo-o para dentro do filme ou quando lhe convém, coloca-se à parte do filme, quase como um alter-ego do diretor, reeditando a história segundo sua lógica.

 Michael Haneke é frequentemente chamado de gênio ou de sádico. Eu diria que ele é os dois. Não há consenso sobre a obra do cineasta alemão, a não ser a certeza de que ele é polêmico. Cineasta de filmes perturbadores, voltados a ocorrências violentas e possíveis, divide público e crítica simplesmente porque alguns acreditam que ele vá longe demais em seus retratos, que exigem certo preparo para serem acompanhados. 

 Violência Gratuita é um de seus trabalhos que mais divide opiniões. Esteja você em qualquer um dos lados do espectro, é impossível sair inalterado da projeção, tal a força da tensão criada pelo cineasta nesse violento drama psicológico. 

Boo.

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