sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Probleminha



Costumo dizer que eu me entendo feminista há 24 anos, mas nasci feminista, porque todas nós somos em alguma instância, porque é inerente a toda mulher que busca viver uma vida plena. Ela pode não saber, mas é feminista.




E o feminismo vem passando por algumas transformações nos últimos anos, muito por conta das redes sociais e grupos de discussão que popularizaram o movimento, tão antigo, mais do que as Sufragistas e a Revolução Industrial. (se lembrarmos de Sappho de  Lesbos então).  E tudo isso é bem bacana, toda essa popularização, só que tudo tem dois lados e o lado negativo do feminismo pop é o tanto de asneira e discussão que não leva a lugar nenhum que se trava por aí. E agora estão problematizando A Bela e A Fera de um jeito tão idiota que fica difícil.

Mas né? Quem sou eu pra dizer o que deve ser problematizado ou não. Mas A Bela e A Fera, gente? Fico pensando nos conceitos de arquétipo, antagonismo, drama e que se a gente fosse fazer uma narrativa blindada de problematização, não existiria enredo. Acabava com a boniteza do faz de conta, com a narrativa maravilhosa, esse lance bonito que é entender o mundo através de símbolos. E se entender, porque às vezes nem carece. E construir uma ponte para entrar em contato com o outro. 

A narrativa maravilhosa tem mecanismos e engrenagens. Estruturas. Por exemplo, em narrativas utópicas, descobrimos que a falha da utopia geralmente é o totalitarismo protetor da perfeição, que transforma o idílio (sonho) em pesadelo. Uma sociedade perfeita, limpa, asséptica e sem falhas, geralmente esconde muito sangue e violência por baixo dos panos pra aplacar o conflito do que é diferente. 

Às vezes eu sinto no excesso de problematização esse desejo de assepsia e me preocupo mesmo. Poque o mundo está tão feio e equivocado, que é legítimo dar a volta e querer viver em Narnia, na Terra Média ou no delírio do País das Maravilhas. Mas, eventualmente, vamos encontrar os assassinos que mantém a ordem.

O Jung escreveu algo sobre A Fera, falando sobre o arquétipo da violência masculina transformada na alegoria de uma fera. Tem o "Morfologia do Conto Maravilhoso" que fala das estruturas do que a gente popularmente chama de contos de fadas e o porquê de serem histórias de engano, violência, sexo e morte (percebam que a maioria esmagadora das princesas são órfãs?). E para ir mais a fundo, Psicanálise dos Contos de Fadas do Bettelheim.

Inté.

Imagem: Ilustração antiga (e medonha) da Chapeuzinho vermelho e o Lobo Mau disfarçado de vovó.

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