sábado, 29 de abril de 2017

Dia 28 de Abril, um dia histórico



Dia 28 de abril foi um desses dias históricos que, de alguma maneira, mudam o curso dos coisas. Ainda não sei ao certo que mudanças serão essas, mas o certo é que mudarão. Foi um dia de greve geral contra as reformas trabalhistas, flexibilização da CLT e reforma da previdência, duas reformas propostas por um governo golpista, equivocado e que não representa o que os trabalhadores querem.
Mas eu não colocava fé. Antes do dia, fui ao supermercado, porque né, por mais que eu não acreditasse numa paralisação pacífica, eu a defenderia e protegeria, porque é pouco, muito pouco, pois era o que nos restava. Daí que fui às compras, porque no dia 28, greve geral, nada deveria funcionar, incluindo mercados (e não funcionou mesmo). No caminho, passei por algumas pessoas com camisetas #ForaTemer, outras com adesivos da #GreveGeral e não pude deixar de me alegrar. Senti algo diferente. Pois bem.

No mercado, uma senhorinha com uma camiseta "nenhum direito a menos". camiseta preta-luto-revolução (invejei) e no carrinho, leite desnatado, banana orgânica (sim, eu reparo nas compras alheias, dizem muito sobre as pessoas). Já no meu carrinho, melancia baby (amo), café (porque tem que ter café. sempre), ração pra gato, Eu ri por dentro, afinal, a senhorinha e eu estávamos lá pelos mesmos motivos, abastecer nossos bunkers burgueses. Só que a senhorinha de camiseta luto em protesto, e eu, com o uniforme de trabalho, a camiseta de professora da escola. Me senti bem careta. Uma senhorinha, eu. Mas, nós, as senhorinhas, teremos mantimentos em casa para o tempo que dure a greve, que no caso é um dia mesmo.

Queria que durasse semanas, e o país entrasse em colapso, e os podres poderes ficassem apavorados. Sempre imagino, quase em êxtase, figuras taciturnas como a Cora Ronai em pânico, no alto do seu apartamento de um por andar na Lagoa Rodrigo de Freitas: é uma invasão lulística esquerdopata. A greve do Lula, como os idiotas falaram. Enchi o carrinho e fui para a fila. Rindo por dentro. Comentei com meu filho o desejo por uma greve nos moldes franceses da revolta da cinemateca, tocando fogo em tudo, no meu mais recente desejo por um lança-chamas e tal. Acho que devo ter comentado com alguns outros queridos ao longo do dia, colegas, aluninhos. Todos riram. Mal sabem eles que falo sério. É sério. Eu quero um lança-chamas e uma manifestação pra tocar o terror, porque manifestação pacífica não ganha nada, e a gente tem que ganhar, chega de perder. Começar a revolução ali mesmo, no supermercado, eu e a senhorinha do leite desnatado e a camiseta revolucionária. Sempre é uma boa hora pra fazer tudo diferente.

E aí, como falei no começo, que as coisas foram diferentes. Aqui em Fortaleza senti as pessoas mais inconformadas, para além de quererem apenas gritar palavras de ordem, tocar tambores e beber cerveja. Não, vi adolescentes, idosos, sindicalistas, alunos, professores, freiras, todos uníssonos em suas indignações, contra o fim da pilhagem do país. E foi bonito, fiquei emocionada várias vezes. bandeiras vermelhas pelos apartamentos no caminho do Centro, gente aplaudindo, black blocks por ali, quebrando vidro de banco ladrão com perdão de dívida que serviria para sanar a previdência. É, acho que mais pessoas desejam um lança-chamas.

Fiquei triste com o que soube do Rio, gente querida cercada por uma polícia fascista. que não passa de jagunçada de governo corrupto. Numa festa plural, democrática, rica em diversidade, bem diferente de "um punhado de sindicalistas inconformados com o fim do imposto sindical", como irresponsavelmente está sendo propagado. Era muita gente, em grande maioria mulheres, pessoas idosas, muitos jovens. A grandeza numérica da manifestação foi quase proporcional à violência descabida e injustificável, As primeiras explosões das bombas atiradas contra os manifestantes forma num susto, sem esperar, sem motivos. Todos corriam desesperadamente para a rua da Assembleia. Idosos com dificuldade para fugir dos efeitos da enorme fumaça de gás de pimenta que se formava. As pessoas formavam rodas, tiravam lenços e as próprias camisas para cobrir o rosto e tentar parar de respirar a pimenta, compartilhavam água e azeite. Mas os disparos de bombas na direção da rua da Assembleia prosseguiam, tornando impossível fazer a travessia por ali, para ir para o TRT, perto da Cinelândia. A região tornou-se sítio de trânsito proibido. Os seguranças da UCAM recomendavam às pessoas que deixassem o prédio pelos fundos, na altura da rua 7 de Setembro. Correria na Rio Branco e novas bombas explodindo nas proximidade. O relato no FB do Desembargador Corregedor do TRT, José Jose Nascimento Araujo me deixou transtornada. Mas o Rio resiste, o Brasil resiste, minha aldeia resiste. Como falei dia desses, fazendo minhas as palavras de um certo Silva, a luta continua. 

`À luta.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Sejam educados, seus lindos!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...