domingo, 25 de agosto de 2013

Tim Burton



Costumo marcar os períodos da minha vida associando a algo que representou alguma forte presença. Na adolescência foi o cinema. 

 Houve um período que chamo de "período de iniciação", por volta dos 13/14 anos, que foi uma das épocas mais queridas. Era então editora do jornalzinho da escola, que inclusive foi criado pelo meu grupo de amigos e que surgiu a partir do nosso "clubinho do terror" (nos reuníamos após as aulas para trocarmos figurinhas de filmes de terror, Jason, Freddy Krueger, Michael Myers), era muito bacana.

 Nessa época já nos deixavam, passear pela então novidade pós-reforma do Shopping Iguatemi (óbvio, devidamente escoltados por irmãos mais velhos ou pela tia de alguém), que era ridiculamente pequeno, mas para nós era um mundo a se desbravar, inclusive porque era longe de todos nós, no meio do mangue então quase totalmente preservado. E foi nesta época que o cinema entrou em nossas vidas. A gente que vivia limitado às estreias de filme de terror no SBT ou então à sessão da tarde, Curtindo a vida adoidado, Goonies, Garota de Rosa Shocking (que tipo, é amor até hoje) nos tornamos habitué(e)s, figurinhas carimbadas, com carteirinha e tudo, do charmoso Cine São Luís da Praça do Ferreira, um dos prédios mais lindos de Fortaleza. Pena que o cinema como o conheci não existe. Houve época até que a Igreja Universal quis comprá-lo para transformar num templo. Não aconteceu, o cinema foi preservado, mas não mais como era e hoje está desativado. 

Mas voltando, foi uma época ótima de grandes estreias, quando finalmente estávamos liberados para pegar um cineminha com os amigos, pipoquinha, coca-cola. Alguns anos depois se inaugurou a primeira McDonald's em Fortaleza, bem próximo ao São Luís, e após as sessões, íamos em bandos, com nossas camisetas de banda, All Stars, melissinhas, contabilizando a grana pífia de adolescente para comprar um hamburguer. 

 É uma lembrança tão boa, de uma época tão ingênua, de posteres pelas paredes, de fitas k7 e de uma luta homérica para conseguir comprar um esmalte azul. Era mágico. Aliás fui educada para filtrar a magia das coisas, graças aos contos de fadas que preencheram minha infância e ao Clube da Disney também. 

 E foi nessa época que descobri Tim Burton, numa matéria da Veja, à época do lançamento de Edward Mãos de Tesoura, que assisti na estreia no Cine São Luís e que me conquistou ali mesmo, com aquele sujeito curioso que dava vida ao Edward, que para mim era um tipinho que fazia parte dos Anjos da Lei, estou falando do Johnny Depp. Descobri então que outro filme querido da sessão da tarde era do Tim Burton também, Quando os fantasmas se divertem, com o impagável Beetlejuice, a cobra listrada e com a estranha Winona Rider. 

Então Burton e seu mundo, que cria um grotesco que encanta, faz parte da minha vida. Foi a primeira vez que parei para prestar atenção no diretor de um filme, na sua criação, o que alimenta a mente de quem está atrás das câmeras e dos textos que se tornam película. Foi através dos filmes do Burton que aprendi a buscar referências, conhecimento de mundo e a parar e observar que até em uma árvore morta, encontra-se poesia e abrigo, como os bichinhos nos desenhos das princesas da Disney. 

 Só pra saber, o primeira experiência profissional do Burton foi quando ganhou uma bolsa da Disney, que levou o menino esquisito, fã de Vincent Price, tempos depois, a trabalhar na própria Disney, como aprendiz de animador. 

 Vejo o mundo que Burton transmite através de suas obras, muito em metáfora no Big Fish, que o fantástico vêm quando a gente enxerga o fantástico, quando a gente se permite enxergar, como acontece na infância, em que tudo é possível, até fazer de um clubinho de terror a coisa mais legal e feliz da vida. Neste trajeto, muita coisa pode parecer bizarra, assustadora, mas se repararmos direito, é tudo tão inofensivo, como no Estranho Mundo de Jack, em que uma porta separa o Natal do Halloween. Uma separação tênue. Só quem consegue captar o fio que liga o medo e o encantamento é que vai entender; tem que ler muito Perrault e Anderson, com ogros engolindo crianças e tudo o mais. 

 Vale lembrar que esta é a opinião de uma pessoinha que curte muito um toque de pó de pirlimpimpim e salagadoola.

Bisous.


Nenhum comentário :

Postar um comentário

Sejam educados, seus lindos!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...