segunda-feira, 30 de junho de 2014

100 Unhapy days - Insônia, Exupéry e Dickens (6)


Eu tenho insônia faz alguns anos. Passei períodos em que só conseguia dormir duas horas por dia, coisa que alguns amigos duvidavam, porque, ao que parece, tem gente que gosta de fingir que é doente, triste e medicada com receita azul e tudo. Bem, eu já tinha toda a atenção que eu precisava, então, né? Amigos.

Talvez porque eu não aparentava a melancolia que carregava. Era sempre a pessoa verborrágica, dos despautérios que fazia todos rirem, a agitação encarnada. E olha, eu me cansava de mim mesma. Estas máscaras sociais que a gente usa para sobreviver em um grupo. Ou para sobreviver ao grupo.

O tempo passou, e eu me apaixonei, vamos dizer, pela vida. Voltei a desenhar e pintar, usar cores. Fui morar no Rio, mais ou menos em uma época dessas, que é inverno de verdade, de fazer frio, usar cobertas e moletons quentinhos. E voltei a dormir. Muito. E como era bom. Era muito bom estar feliz e sem máscaras. Até que aconteceu, a vida e suas reviravoltas e cá estou eu de novo, há um ano sem dormir direito. E sem inverno, mesmo que fosse o do Rio.

Quando me vejo perambulando pelo apartamento iluminado pela luz azul da tv, em que todos dormem, os erês, Miu, Justine, Benji, eu me pergunto se voltarei a dormir direito um dia, por mim mesma, sem ter mais nada como um motivo de tranquilidade e alívio do fardo que às vezes é viver. Mas sabe, a culpa é toda minha, porque aquela idiotice de frase da raposa no Pequeno Príncipe Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé (Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas) é uma besteira sem tamanho, porque ninguém tem culpa pela decepção que sentimos, a culpa é das nossas expectativas e esperanças.

Dickens em Grandes Esperanças tinha a exata noção dos nossos mais profundos dilemas, nascidos das nossas obsessões e ilusões: Suffering has been stronger than all other teaching, and has taught me to understand what your heart used to be. I have been bent and broken, but - I hope - into a better shape.

Bisous.

Imagem: Helena Bonham Carter, como uma das personagens mais assustadoras da literatura, Miss Havisham.

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