terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Todo carnaval tem fim




Não sei bem o motivo, mas eu nunca curti brincar carnaval. Sempre fui aquela criança fantasiada de cigana (ou baiana ou coelha ou palhacinha - por sinal era a fantasia que eu mais odiava) triste e/ou emburrada no canto do salão do clube do bairro, nos malditos bailinhos de carnaval. E na escola então? O terror era levar confete e serpentina na cara.

E sempre perguntam: vai viajar no carnaval?

O que pra mim sempre soou um pouco deslocado, porque quase nunca viajei nessa época do ano. Quando meu pai estava vivo, não gostava de folia. Depois que ele se foi n´so não tínhamos dinheiro. Mas viajei umas poucas vezes. Viajei quando era adolescente, com um grupo da escola, dois professores e o resto, todo mundo adolescente. Foi pra Canoa Quebrada. Lugar lindo, mas não foi legal. Ainda bem que ao menos dois amigos da época foram, porque podemos dividir toda a náusea do feriado ouvindo forró e testemunhando o retardamento da figura humana que vomita e rola no próprio vômito - uma vez testemunhei um homem adulto e pai de família fazer o mesmo. Sim, a gente bebia, mas tinha um código de ética de não beber pra passar vexame, ou seja, na frente de familiares e professores. Senso de ridículo é coisa que nasce com a criatura humana. Ou não.

 Depois, rolou outra viagem, pra outra praia paradisíaca do Ceará, Jericoacoara. O axé já havia dominado o mundo e imagine meu drama, porque eu odeio axé. Não foi legal. De novo. 

Uma única outra vez fui de carro com amigos pra conferir o então Festival da Neblina, festival de Jazz & Blues que rolava numa serra mais ou menos perto de Fortaleza, Serra de Guaramiranga. Música boa, de graça, teatro Raquel de Queiroz bem ali, friozinho, e breguices tipo fondue com vinho. Hoje em dia o festival mudou de nome e ficou mainstream, pop, super lotado e com mais fondue ainda. 

 Dai meus carnavais se tornaram uma espécie de ritual do recolhimento. Passar numa locadora de vídeo, alugar pencas de filmes pra assistir escondidinha em casa, comendo cachorro quente, bolo de chocolate com chantilly. 

É, de alguma forma eu também sempre viajei no carnaval.

Imagem: Memória afetiva com kombis. Depois eu conto.

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