quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Deixa ela entrar




O filme, como tantos outros do gênero, na verdade, como a maioria dos filmes resenhados aqui, é baseado num livro que é homônimo, Deixa Ela Entrar, do autor sueco John Ajvide Lindqvist. É uma história de terror de verdade, uma história de vampiros, que te deixa impressionado depois que lê, e olha que eu não me impressiono fácil. E o livro vai além no quesito assuntos indigestos e terríveis, como pedofilia e bullying, de maneira nada eufemística. E o filme, ao menos a excelente versão também sueca, caminha por esses trilhos assombrosos.

A história então gira em torno de Oskar, um menino de 12 anos que tem uma vida bem difícil, sofre de incontinência urinária, mora no subúrbio da cidade com sua mãe. Seus pais são separados e ele não tem um relacionamento muito bom com o pai. E depois disso tudo, ainda é alvo de meninos de sua escola, que o zombam, o machucam, e fazem atrocidades com ele bem pesadas. No livro as coisas são bem chocantes, o que causa um terrível desconforto, recurso do escritor para ajudar no clima de terror ipsi literis.

Deixa Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, 2008) consegue renovar o gênero e conquistar fãs chatos, como eu mundo afora, por fazer dessa maldição uma metáfora das dificuldades da adolescência. 

Oskar (Kåre Hedebrant), cansado de ser saco de pancada na escola, que treina seu revide sozinho no quarto, com uma faca. Quem parece um vampiro aqui é ele: loiro, retraído, branco quase albino, com sangue nos olhos e, descobriremos depois, até uma tendência para o masoquismo. Mas Oskar é só um garoto normal. Até o dia em que ele conhece Eli (Lina Leandersson), garota que acabou de se mudar para o prédio de Oskar e que chama atenção pela janela do quarto, tapada com papelão. Como Oskar, Eli não é muito de socializar. E ela também tem 12 anos, só que há muito mais tempo. Acabam ficando amigos, no jardim coberto de neve diante do prédio, à noite. A relação clássica do gênero pressupõe um vampiro secular, ciente do fardo que carrega, e um humano, que, na sua breve e ignorante existência, inveja o poder do outro. É evidente que, ao descobrir que Eli é uma vampira, Oskar não se afastará, pelo contrário. 

Os acontecimentos seguintes são aqueles que, nesta história de formação, definirão quem Oskar realmente é. Há toda uma tradição envolvendo o gênero, e o diretor Tomas Alfredson se livra um pouco dessa carga com uma dose de ironia. O pai de Eli só toma leite, o gordo que testemunha os crimes é criador de gatos, o blusão que Oskar veste na casa do pai parece uma capa vermelha de Drácula, ou seja, coisas que só o cinema europeu faz por você.

 Ao adicionar em seu filme realista uma dose de caricatura, Alfredson se permite não se levar a sério demais e se cria então espaço para fazer um pequeno grande filme. Prevalecem a bela construção da relação dos dois garotos e as analogias com a adolescência normal, como o complexo de Electra.

Boo.

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