quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Entrevista com o Vampiro



Daquele tipo de filme que a gente torce com força para que nunca inventem de refilmar, porque não tem necessidade alguma (apesar de que li, em algum lugar, que sim, estão pensando em refilmar - why, dear god?).

 O filme me transformou numa fervorosa fã de Anne Rice, autora das crônicas vampirescas, entre elas justamente Entrevista com o Vampiro, que por sinal tem roteiro assinado por ela mesma. O diretor, Neil Jordan, trouxe aos cinemas em 1994 o que é considerado por muitos o melhor filme de vampiro já feito. Como confessei no post passado, para mim esse lugar é do Dracula do Coppola. Não que Neil Jordan tenha feito algo ruim com Entrevista com o Vampiro, longe disso. Decerto é um dos melhores filmes do gênero já realizado. Na minha lista particular está em segundo, inclusive. Mas, Entrevista com o Vampiro traz realmente uma certa dose de maturidade aos sanguessugas cinematográficos. Forte, intenso, com boas interpretações e uma direção cuidada, encanta a quem assiste, independente de idade. 

Acompanhamos a história de Louis (Brad Pitt) desde que ele nasceu para escuridão, como define ao entrevistador Daniel Malloy vivido por Christian Slater. Através de sua entrevista, vamos conhecendo a alma do vampiro que se sente culpado por ter que matar. Sim, porque ao contrário dos demais de sua espécie, Louis conserva sua alma humana, com todas as suas paixões, desejos e culpas. Assim se constrói uma espécie de fascínio em Lestat e depois em Armand, para não falar da pequena víbora Cláudia. 

Através dos olhos perdidos de Louis, o vampiro mais chato de todos os tempos (sim, eu não gosto do Louis, ele é um porre -resenha do livro? quem sabe um dia) somos apresentados ao mundo imaginado por Anne Rice, um mundo que se desdobra nas sombras dos becos das cidades. Não há ainda muita explicação para a origem dos vampiros - que Anne Rice só aprofunda em outras narrativas das crônicas vampirescas - até porque Louis não sabe muito sobre isso, só sabe que se tornou um monstro, que não pode mais ver a luz do sol e precisa de sangue. 

Entrevista com o Vampiro já é impactante em seus detalhes. Começa com uma tomada aérea noturna com a bela trilha de Elliot Goldenthal nos ambientando com o clima do filme. Somos então levados até um quarto simples, onde seremos apresentados a Louis, de costas para o entrevistador (Christian Slater), olhando a rua; a sala está na penumbra, apenas sua voz em destaque. Só então, ele anuncia que acenderá a luz e vemos seu rosto fantasmagórico. Isso sem falar no texto que dá sempre a sensação de algo especial, com um tom ácido, sarcástico. "Como devo começar, igual a David Copperfield? Eu nasci, cresci? Ou quando eu nasci para a escuridão como eu chamo?" 

Tudo se encaixa como uma orquestra. que nos leva ao século XVIII, a Lestat e aí reside o grande jogo criado por Anne Rice, o contraste de visões de mundo. Não é exatamente a dicotomia Bem e Mal, é bom deixar claro. Aos nossos olhos, Lestat parece mesmo um ser tenebroso, até porque quem nos apresenta é Louis, que o culpa por tudo. Seja lá o que for. Mas, o vampiro é apenas um retrato de sua própria natureza. Em determinado momento, Lestat questiona a Louis "o que é o mal?" Para ele, suas atitudes são apenas reflexo do que tem de ser, não há culpas, nem julgamentos. "Deus também mata aleatoriamente", diz ele e ainda completa "não há ninguém como ele, assim como não há ninguém como nós." 

Compreendendo a mitologia em que se baseia Anne Rice, de que os vampiros são filhos de Lilith, a primeira mulher expulsa do paraíso por não aceitar ser submissa a Adão, tudo faz ainda mais sentido. Não existe aqui a culpa do pecado original. Há sim, uma busca por liberdade plena. De certa forma, Louis e Lestat se completam, mesmo que em meio ao desespero do primeiro, que não consegue aceitar sua natureza. O equilíbrio acaba quando entra em cena Cláudia, a pequena órfão, mordida por Louis, que Lestat transforma em vampira, dando assim "vida" a um monstro. Cláudia é a garotinha com ar angelical, cabelos louros cacheados, roupas de boneca. Mas, o tempo é sempre cruel com a melhor das criaturas, e ela se torna uma mulher, presa em um corpo infantil. Tem a malícia e os desejos de uma mulher egoísta, que foi criada com todos os mimos, mas engana por suas feições. Cláudia se torna a mais perversa das criaturas e conduz Louis em sua trajetória de traição, castigo, redenção e eterna culpa, com o que vai acontecendo a partir de então. 

 Como um bom filme de vampiro, boa parte das cenas é feita a noite. O filme abusa das sombras, do efeito da vela, das tempestades escuras para ajudar na construção da narrativa. Os detalhes são explorados, os cenários são ricos, tudo nos transporta para aquele mundo irreal e fascinante, apesar de assustador. 

Quando Louis e Cláudia vão para Europa o clima sombrio se mantêm com as ruas desertas e pouco iluminadas, os becos escuros e as lojas visitadas apenas pela noite. Mas, há também novidades como a trupe do Teatro do Vampiros e sua morada propícia para vampiros. E claro, Armand, um vislumbre de mestre que Louis sempre sonhou que pudesse, talvez, explicar o que seria tudo aquilo. Mas, é aí também que ele perderá parte de sua alma. 

 Outro ponto fundamental para o sucesso de Entrevista com o Vampiro é o elenco. Mesmo com todos os protestos de Anne Rice, Tom Cruise encarnou um Lestat digno de qualquer livro da autora. Sedutor, forte, envolvente e ao mesmo tempo assustador. Brad Pitt estava irretocável como Louis, o chato das trevas. Minha única ressalva é para Armand vivido por Antonio Banderas. Não gente, não funcionou, até porque Armand tinha 16 anos quando foi transformado e era do leste europeu, ou seja. Não.

Apenas como curiosidade, River Phoenix estava escalado para ser o entrevistador, mas sua morte prematura deu espaço para Christian Slater.

Por tudo isso, Entrevista com o Vampiro é daqueles filmes que impressionam e ficam em nossa memória. 

Boo.

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