Hoje, dei aula de revisão de conteúdos, provas semanais chegando, depois de uma semana intensa de feira cultural na escola (trabalhos lindos, turmas me matando de orgulho, como 1ª 1 e 2ª do meu coração) e, no meio das minhas considerações pras avaliações de literatura, notei que fiz um adendo à informação de que Clarice (Lispector) não gostava de ser rotulada como escritora feminista, e ela não gostava mesmo, mas, independente do que Clarice queria ou não queria, a obra é aberta a múltiplas interpretações dos leitores, e nós leitoras percebemos esta voz feminina, esta representatividade e protagonismo das personagens criadas por Clarice.
E ontem, assistindo o Emmy 2017, quando vi Margaret Atwood subir ao palco junto com o elenco de Handmaids' Tale (O Conto da Aia, em português) só lembrei de suas declarações sobre este livro, de que não era um livro feminista, porque não teve a intenção de ser feminista, porque foi escrito antes da grande onda feminista etc. Mas, corroborando da mesma perspectiva das leitoras, nós sentimos tudo isso em The Handmaid's Tale, é impossível não sentir. A série The Handmaid's Tale levou seis prêmios no International Emmy Awards, que aconteceu ontem. Entre eles, o de melhor atriz em série dramática para Elisabeth Moss. A série, adaptada do livro de Atwood, fala sobre aquilo que toda mulher tem medo: a perda de sua voz e autonomia sobre sua vida e seu corpo. A atriz se destacou no papel da aia Offred, uma mulher forte, destemida e brutalmente atingida pela estrutura machista.
Outro grande vencedor da noite foi Big Little Lies, Nicole Kidman em sua fala pra agradecer a premiação, falou de violência doméstica e como nos calamos perante este absurdo, e eu não consegui não me colocar no lugar da personagem, já que passei por isso (e demorou um tempo até eu conseguir admitir pra mim mesma que vivi isso, que romantizei e normatizei relação abusiva). Mas foi a fala de Reese Whitherspoon que mexeu comigo: "Deixem as mulheres serem protagonistas de suas próprias histórias, serem as heroínas de suas histórias". E de novo, foi impossível pra mim não me colocar diretamente neste lugar e me sentir representada na fala da atriz, com a série e com o livro, que devorei em algumas horas numa noite em que esbarrei no primeiro episódio na HBO.
Então, deixo aqui minha alegria, duma noite linda e importantíssima pra nossa luta e, fica a recomendação de que assistam The Handmaid's Tale e Big Little Lies, assim como leiam os livros, escritos por duas mulheres incríveis.
Bisous.
Imagens: The Handmaid's Tale (aquela fotografia e direção de arte que você respeita); Clarice fazendo 'a natural' datilografando; Cena final de Big Little Lies.
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