Há quem diga que feministas são mulheres mal amadas, infelizes e insatisfeitas com a vida. Bem, falando por mim, mal amada eu não sou não, sou muito amada e amada de verdade, sem interesses ou pequenezas. Quanto ou infeliz e insatisfeita, olha sou sim, sabe? Sou infeliz de viver numa sociedade opressora que a toda hora me diz que sou inadequada. E estou insatisfeita com tudo isso.
Lembro quando o feminismo começou a fazer sentido pra mim, mas continuei me sentindo infeliz e insatisfeita, contudo, menos só. Daí, deparei-me com um termo novo, desconhecido: sororidade. Lendo, discutindo, refletindo, desconstruindo, chegamos na beleza (ao menos teórica) da sororidade, que almeja quebrar um dos braços mais fortes do patriarcado: a rivalidade entre mulheres. Um dos mais fortes, porque é praticamente um escudo contra o verdadeiro opressor, que nos faz lutar uma contra as outras enquanto o que tem que ser destruído, esse sistema que estupra mulheres a cada 12 segundos, continua firme e forte.
Tentamos desconstruir tudo quanto é problemática e opressão, desde as mais intrínsecas: racismo, classismo, gordofobia, etc, etc, etc. A gente fala de empoderamento, a gente procura o empoderamento, a gente se liberta, acima as rédeas da própria vida e, quando finalmente está tudo claro e pronto, e se pode daí resgatar outras mulheres, a gente se acomoda. Sororidade pra quê, pra quem?
O conceito de sororidade, ao menos pra mim, o que eu consegui entender, é da união de mulheres contra o patriarcado, tática de luta contra a rivalidade feminina, que mantém a unidade de movimento, mas não iguala opressão e sofrimento. Partindo do principio de interseccionalidade, em que opressões se somam, nem todas as mulheres sofrem apenas por opressão de gênero. Por isso, mesmo que oprimidas, mulheres oprimem outras mulheres.
E aí é que entra a linda da sororidade novamente, porém não mais na pureza de seu conceito e sim como a arma silenciadora mais dolorosa de todos os tempos, que promove destruição do movimento de dentro pra fora. Porque em espaços que temos que ser contempladas por completo, nos é cobrado sentimento de irmandade com opressor, e que esteja bem entendido que o opressor a que me direciono é mulher branca, cis, hétero, de classe média/rica. Não se pode cobrar/obrigar irmandade de uma mulher negra e periférica, por uma branca rica, e nem de uma trans com uma cis, porque não se exige irmandade de oprimido com opressor. E sou muito firme em afirmar que até falta de sororidade é uma reação de oprimido, ou seja, é totalmente legítimo.
Volto a afirmar meu posicionamento de que sororidade é para unidade de movimento e tática de luta contra rivalidade entre mulheres ao falarmos de opressão de gênero, mas todo o resto é balela.
Viva ao feminismo abolicionista!
Inté.
Imgem: Maravilhosa Angela Davis.
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