sábado, 21 de outubro de 2017

Pare de assistir as notícias



A primeira vez que fui dona de uma casa, mesmo, eu tinha uns 19 anos. Um dos maiores prazeres da minha vida, nesse período, em que as coisas eram bem menos complicadas (só tinha um filho), era me deitar sozinha na minha cama de casal, no horário que eu queria, e assistir tv, tomando chá e comendo biscoitos. Daí dormia, acordava, zapeava a tv, assistia uma fita que havia alugado, sempre tinha fitas em casa, em geral, de terror. Assistia muito O Corvo (Cidade dos Anjos). Gosto muito. A sensação de prazer era quase indescritível. 

Daí o Morrissey, sempre ele, sim estou monotemática, escreveu outra música pra mim (não precisava, my love!), Spend the day in bed. Véi, sou eu, é a vida que eu peço toda desgraça de dia que pego o 314 com o galo cantando ainda. Aliás, por que tem galos cantando no Centro da cidade? Fico imaginando se é da loja maçônica aqui na esquina da Antonio Pompeu com a General Sampaio, porque tem um galo sobre o mundo no topo do palacete, daí né? E eu estou brincando.

Mas então.

Imagina que maravilhoso, passar o dia na cama, que feliz seria passar o dia na cama, especialmente, uma queen size, com lençóis egípcios de 80 fios, todos os fios! Parar de me juntar à manada de trabalhadores escravizados. Amar sua cama. Morrissey recomenda com força que fiquemos em nossas camas e, de quebra, paremos de assistir as notícias, porque as notícias assustam e tiram nossas esperanças, nos deixam pequenos e sozinhos. Passar o dia na cama, nos lençóis pelos quais pagamos, com cheiro de lavanda e resquícios do sol do varal. Deve ser incrível e faz com que o tempo trabalhe por nós, bem ali, na cama. E não há nada de errado em ser bom consigo mesmo: sem ônibus, sem chefe, sem chuva, sem trem.

Ai de mim.


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