domingo, 22 de abril de 2018

Maternidade



Assistir Divinos segredos despertou uma série de coisas em mim. Parece que faz tempo, já que a última postagem sobre é de uma semana atrás. Mas, devo confessar que este post estava agendado - aliás, vou ver se faço assim, pra ver se consigo deixar ao menos uma publicação por mês por aqui. Primeiramente, lembrei dos outros filmes de mães disfuncionais que coleciono, como A Excêntrica família de Antônia, Álbum de família. Depois, da onda recente de desromantização da maternidade, fenômeno pós boom do feminismo nas redes sociais e em nossas vidas.

Fui mãe muito cedo, tinha só 18 anos quando meu filho mais velho nasceu e lá se vão quase 23 anos. Como já confessei no dito cujo do post sobre Divinos segredos, minha relação com a minha mãe é um lixo e, óbvio que quando engravidei ainda adolescente do namorado da escola, namoro que foi proibido, a relação que já era uma bela duma merda, ficou ainda pior. Não, minha mãe não se enterneceu pela gravidez da única filha, pela vinda de mais um membro da família, mesmo quando soube que era menino, ela que sempre quis um filho homem, foi aí aliás que eu comecei a errar pra minha mãe, porque não nasci homem. Né, que triste? Então, minha santa mãezinha - capte a ironia - nunca conversou comigo sobre nada que tivesse a ver com sexualidade e, muito menos maternidade. Nada me falou das dores ao longo do processo de gestação, do desconforto, da insônia, do susto que a gente toma quando o trenzinho começa a mexer. Não me falou dos exames pré-parto que passamos, que lembram muito mais um assédio sexual, inclusive eu dei na cara do obstetra. Não falou da violência que é um parto, dos cortes, do pós -parto, dos seios machucados, e de todo desespero que é cuidar de um recém-nascido.

Então, por conta de todos estes traumas, eu sempre que tinha oportunidade, desconstruía essa coisa romântica da gestação como um estado de graça, pra todas as mulheres da minha vida, desde filhas, amigas até alunas, pois me sentia na obrigação. Ser mãe é uma coisa muito maluca e difícil, muito difícil mesmo. Todas as etapas da maternidade são uma luta. Talvez, pra mães solo, como eu, seja ainda um pouco mais assustador, porque a gente erra e voilà, a culpa é toda nossa, sem compartilhamento com o companheiro fujão. Apesar de que conheço mulheres casadas em que a coisa funciona do mesmo jeito, coisas desse patriarcado quengo.

Agora estou na fase dos filhos no final da adolescência e já passei por poucas e boas. Ou melhor, passamos por poucas e boas e, a tendência, acredito com força, é fica melhor, porque eles são meus companheiros e amigos, inclusive daquele tipo de amigo sincerão que joga umas verdades na cara. E como jogam. Criá-los paticamente sozinha foi duro, doloroso, mas também foi muito muito bom, tanto que nunca me imaginei sem eles, nunca desejei voltar no tempo e não tê-los, nem mesmo nos piores momentos. Às vezes, me sinto culpada, porque me acho egoísta. Eles mereciam ter uma mãe mais boazinha da cabeça, que não tomasse tantas decisões erradas, menos socialista, mais capitalista de repente. Mesmo eles me dizendo que gostam da nossa vida de aventuras proletárias.

Isso tudo pra dizer a todas as futuras mães que, por acaso passarem os olhos neste texto, que sim, a gravidez não é um romance do século XIX, idealizado. Na verdade, está mais pros piores e melhores momentos do Realismo/Naturalismo. Mas, por muitas vezes, é tão lindo quanto um soneto de Shakespeare. Sim, há muita dor e desespero no caminho da maternidade, mas há o amor, e é daquele tipo que faz tudo valer a pena.

Inté.

Imagem: Selma de Dancer in the Dark.

Um comentário :

  1. Eu sempre falo que se pudesse voltar atras nao teria tido os filhos. Estou passando por uma fase dificil com eles na adolescencia mas tambem acho que eu nao poderia ter tido porque nao sei cuidar nem de mim.Enfim, achei lindo voce dizer que nunca quis nao te-los.

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Sejam educados, seus lindos!

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