domingo, 13 de maio de 2018

Forever 21 em Fortaleza e a vergonha seletiva



Eu sempre quis um brechó. Tá, nem sempre, mas é um desejo sincero. E possível! Tem umas peças  que eu quero me desfazer faz um tempo, todas novas e diferentes, fruto de muita pesquisa e do meu gosto peculiar. Inclusive, no meu tempo de faculdade, o povo achava que eu fazia estilismo em vez de letras. Apesar de que sou muito apegada com as coisas (lua em touro, né bebê?), mas como dizem, é bom pra fazer circular as energias e tal. 

De uns tempos pra cá, um monte de gente fofa está fazendo exatamente isso, via contas em redes sociais, especialmente o querido Instagram (insta não, gente, pelo amor da Deusa!). Algumas mais ousadas até vendem criações próprias, o pessoal da moda da UFC. Creio eu que o curso de Design de Moda da UFC deve ser um dos únicos em universidade pública no Brasil, cheinho de gente criativa e bacana. E bem intencionada. E de boas intenções o inferno está cheio, já dizia o cristão.

Esta semana foi marcada, aqui em Fortaleza, pela inauguração de uma Forever 21, fastfashion americana que aparece nos closets de 9 entre 10 blogueiras de merda desta internê das modas. Por que de merda? Porque este povo personal influencer de lookbook só sabe ostentar uma vida impraticável pra maioria das garotas e mulheres dum país proletário e lascado que nem o Brasil. Falam de consumo, mas sem consciência alguma, nem social, nem ecológica, é a ostentação pela ostentação, fora a falta completa de conhecimento mínimo sobre moda. E os estilos são os mesmos, ou seja, não é estilo porcaria nenhuma. E o pior é que realmente acabam sendo formadoras de opinião, só que torpe e deturpada, gerando uma visão deformada e doente, fazendo com que uma galera acredite que preencherá o vazio de suas vidas com compras e mais compras. Fora as que não conseguem comprar tudo o que querem, nem metade do que querem, e caem num estado patológico de ódio de si mesmas e da vida de pobre, sendo a tal vida de pobre não poder comprar 1000 micheisinhos de roupa, acessórios e maquiagem toda semana, como estas personal influencer fazem.

A culpa não é da Forever 21, a marca no caso tem outras culpas que se relacionam com a sua lógica de mercado, da roupa feita em larga escala, copiando outras criações e o pior, explorando o trabalho análogo ao escravo. A culpa é da gente que tem mente fraca, moldada pelas teias do fetiche do objeto, e acha que se a gente não acordar borrifando água micelar que a Alix do Cherry Blossom Girl usa, a gente não vai ser feliz. 

Daí a Forever inaugura, na verdade foi forçada a inaugurar antes do que havia anunciado, porque invadiram o evento que era só pros ~sic~ VIPs e a imprensa local. E o povo lindo e bem intencionado dos brechós e similares da cidade começam a levantar (tentar, né) hash tag de #VergonhaFortaleza, por ser o que é, uma sociedade de consumo. Mas vem cá, isso não é todo dia, não? E este povo que está criticando tem criação de ovelha, faz tosquia, daí tece e confecciona as próprias roupas, que nem o pessoal das montanhas peruanas? Meu povo, melhore.

Eu estava lá no tal dia, fui quase à noitinha. Tinha fila pra entrar no provador, inferno na terra. Fiquei quase uma hora na outra fila, a do caixa, pra pagar umas poucas coisinhas que minha filha Carol queria muito, e eu não sinto vergonha alguma disso e nem acho que minha fama de bruxa comunista arrefeceu, muito pelo comentário. Eu sei exatamente o que estou comprando, sei exatamente o que a Forever 21 é, assim como a Zara. É o meu dinheiro proletário, suado, batalhado e já disse tio Marx, se a classe operário tudo produz, a ela tudo pertence, do iPhone à roupa fuleiragem da Forever 21. Acho lindo esse povo artista do Meirelles, da Aldeota, daquele tipo que vai no Poço da Draga fazer arte e usurpar o espaço dos artistas locais, deslocando seus lugares de fala, se passando. A exemplo duma certa marca aqui de Fortaleza, que tem endereço na Monsenhor Tabosa, a rua das sacoleiras da cidade, mas numa parte que é uma outra Monsenhor Tabosa, de rico, cuja cria da marca compra em labels elitistas, dessas de verdade, que você compra uma saia e uma 'brusinha' e gasta o equivalente pra comprar um carro tipo Gol 2000 (ou um iPhone X :P). Os hippie chic que fala, né? Bohemian Coachela, que vestem globais e querem entubar camiseta de malha vagabunda, com escritos se apropriando das pautas feministas, vendidas por 300 micheis... Como que fala de consumo consciente? E a noção, cadê? Ah, e ainda destrata vendedora. E uma criatura dessa quer se passar de good vibes, engajada e que está com nojinho de FortalezaPorra nenhuma. E é dessa gente besta, sem consciência social, sem empatia que eu estou falando. Faça seu brechó, garota do Meirelles, crie sua marca pro-diversidade, é lindo, mas deixe de ser escrota e trate esta sua miopia social. Não adianta boicotar a Riachuelo e ser miga da chef que humilha atendente de loja. Boicote, mas saiba que o povo que compra nas fast fashion brasileiras tem 180 pra comprar o vestido floral da primavera (parcelado em 8 x, sem juros, no cartão da loja), mas de repente não tem pra pagar 600 na grife que tem nome de fazenda, só que é praieira, e dessa grife, você tem ou teve coleção no seu closet, enquanto a gente, que tem que se envergonhar por comprar na Forever 21, tem é guarda-roupa comprado no queima da Magazine Luiza.

Sinceramente, quantos de vocês que estão com vergonha de Fortaleza por causa da Foreevr 21 compram de produtores têxteis cearenses, tipo Emcetur, Mercado Central, Beco da Poeira? Eu compro ó.

Inté.

Imagem: Orgulho define esta foto, duma vitrine de fastfashion brasileira, acho que foi em 2006. Momento certo, tudo a ver com o post.



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