terça-feira, 1 de maio de 2018

Os pequenos tomates do Jóquei Clube



Um dia por semana eu almoço num dos bairros onde trabalho, no Jóquei Clube e como sou pobrinha, fico de olho nas promoções de almoço baratinho, porque né? Comer fora de casa é muito caro. Na maioria das vezes, é caro e ruim. No Jóquei, tem o shopping que é caro e não tem lá uma ótima variedade, e os restaurantes que vendem algo tipo um pf pelo bairro mesmo são daquele tipo, variando entre comida caseira mais ou menos e a horrível. Óbvio que o barato é horrível, invariavelmente.

Recebi uma recomendação desses pf via delivery duma pessoa que muito se assemelha a um amontoado de abóbora (jerimum). Não o pf, a pessoa mesmo. Daí você super acredita que alguém que se assemelhe com uma fruta (não é curioso que a abóbora é uma fruta? que nem pimenta, né?) vai dar dicas legais de comida, mas não, ledo engano. A comida era uma porcaria e numa porção que não mata fome nem de anão, pensando preconceituosamente que anões comam em proporção ao tamanho. deixeparalá. Abri a tampa do negócio e estava lá, aquela comida hor.ro.ro.sa numa porção esmola, que me deu vontade de chorar, e me levou lá pra 2002, na inscrição do vestibular, onde eu deveria ter escolhido arquitetura. E o pior da porcaria da comida era a salada, uma das coisas que eu mais amo, a coisa mais deprimente da refeição toda. Umas três tiras de alface e umas rodelinhas de tomate ridiculamente pequenos que não eram tomates cerejas. Depois vamos digredir sobre os tomates.

 Em contraste com meus almoços no Jóquei, na minha casa como muito bem, nos restaurantes do Benfica, onde moro, como Mandir, Rango Verde a gente encontra orgânicos, saladas nada ridículas, azeite, óleo de coco, óleo de uva verde, especiarias, coisas que você que não é lá muito chegado, pode estar pensando que é ruim caro, quando não é. Um pote de curry custa menos de 3 golpes e dura meses, uma alface orgânica custa apenas 50 centavos mais cara que a cancerígena não orgânica, fora que você ainda compra de produtores locais, da agricultura familiar, que ainda vai salvar o planeta (eu sou uma pessoa de fé) e é uma comida que é simplesmente maravilhosa. 

Do outro lado da cidade, do meu outro trabalho, digamos que é a área elitista, e tem comida de tudo que é jeito. Tem até um café coreano agora, olha só, grande bosta, né rs? Até que é, vai, Fortaleza está ficando cosmopolita, ao menos na gastronomia. Tem o Take a Juice, perto do meu trampo nas Aldeia, que tem uns sandubas naturais que eu classificaria como maravilhosos. Tem a Natural leve, a POT, que é longe, mas eu gosto bastante e todos entregam onde você está. Quando eu abro a embalagem, vem aquele aroma de azeite e vinagre de maça, mostarda e mel, leveza e saúde. Ok, eu posso até estar me enganando e toda aquela verdura bucólica e árcade estar carregada de agrotóxico, apesar do que os restaurantes afirmam, de que não, e daí os preços abusivos, mas é completamente diferente. E fico pensando, será realmente que as pessoas do bairro periférico não querem comer desse jeito, ou é o mercado que quer que pobres comam mal, muito mal, assim como estudem pouco, e não vão ao teatro, galerias de arte, etc coisa e tal? E daí me dá uma tristeza, sabe?

Mas né? Pois é. Comecei a viajar sinistro no tamanho dos tomates do Jóquei Clube. Um dia, alucinada olhando pra tristeza da comida que eu havia acabado de comprar no delivery do homem abóbora, umas folhas de alface cortadas, um peixe mal empanado do outro lado, reparo no tamanho dos tomatinhos. Não, não eram tomates cereja, ou as tomates grape (por que uva?), eram tomates supostamente daqueles que a gente compra pra salada, só que ridiculamente pequenos. E lembrei que do outro lugar que comprei por delivery, no mesmo Jóquei Clube, me veio de novo estes tomatinhos sem vergonha, pequenos e ridículos. Mas aí, tive um insight orgânico, de que estes tomatinhos tão miudinhos, mas docinhos que só eles, suculentos, pra terem aquele tamaninho, produzidos numa terra que não é a apropriada, só poderiam ter aquele tamaninho sem intervenção humana, plantados ao natural, nascidos num quintal, numa chácara do Passaré (de onde, inclusive compro minhas plantas) e, sem agrotóxicos. E fiquei feliz, que de repente, todos estamos cercados pela santa armadilha do pensamento verde, até quem não sabe.

Inté.

Imagem: coisas lindas e orgânicas da feira da Praça da Gentilândia. Menos o azeite, claro. Ah, o manjericão é da minha sacada ;). Pense verde, bebê.

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