domingo, 3 de junho de 2018

Digital Influencers e o oitavo círculo do inferno



Quantos digital influencers são necessários pra se criar um consciente coletivo da frustração?

Acho que a quantidade já está excessiva, assim como as frustrações. Mas, as fias que se tornam isso, digital influencers, não pensam assim e seguem se multiplicando, tipo bolor no pão francês, escondido no fundo do armário da insegurança alheia. 

Eu escrevo blogs faz milênios e espero, Deusa, nunca ter influenciado ninguém a porra nenhuma, porque né? Sou um fracasso retumbante, que briga com véia surda no caixa da lotérica pra pagar os boleto. E no começo, éramos meia dúzia, utilizando Windows 95, compartilhando nosso azar na vida, que nem o Diário de Bridget Jones, escolhendo vodcka e chaka khan. Aí invetaram as blogueiras de moda e hoje, com a era Youtuber, as blogueirinhas (que eu não sei se o povo chama assim por carinho ou deboche). Elas não necessariamente escrevem algo, mas se filmam pra caramba no story do Instagram e Facebook, mostrando todo o seu "conteúdo" que consiste, basicamente, no que consomem, no que compram ou no que ganham porque são amadas por marcas e demais pessoinhas, ultrapassando os 10 k (10 mil seguidores). Ah, detalhe, pra pessoa digital influenciadora se dignar a te responder, reza a lenda que você também deve ter milhares de pessoas te seguindo, porém menos do que elas (a não ser que você também seja da panelinha digital) e, ser fã da blogueirinha e tals. Caso contrário, morra de base, efeito matte, esperando.

O problema não é que exista este fenômeno, ele era previsível até. Era óbvio que este povo migraria pra outra plataforma mais fácil do que a da escrita, levando em conta que mal sabiam escrever algo que prestasse ou valesse a leitura. Hoje por exemplo, me passou pelas vistas uma criaturinha dessas, regional (Ainda é tatuadora. Antes eram DJs, hoje são tatuadores) chamando um dos livros da Márcia Tiburi de enfadonho. Deve ser porque não tem gravura, né? Óbvio que a criatura humana pode achar enfadonho o que ela quiser. Eu só acho meio uó chamar um livro de escrita acadêmica, chorado e pensado pelos minguantes intelectuais que restam nesta república das bananas passadas que é o Brasil, de enfadonho. Enfadonha é a ignorância. E uma praga dessas é que influencia o povo, e não a Tiburi. Ou a Chauí. Porque a gente teima em não educar a galera, especialmente nossas meninas. 

Mas voltando, não se enganem, esse povo também não sabe falar. A maioria com problemas graves de dicção, fanhas e de vozes irritantes, agravadas pelas variações linguísticas e o pior de tudo, sem conteúdo. Porque, miguinhos, quando teu conteúdo consiste em tirar selfie do teu melhor perfil (a mesma pose, forever), de bico de pata, mostrando como você é privilegiada que não anda de busão, isso implica em dizer que vossa mercê não tem conteúdo, só aparência mesmo. Quando tem, né? Porque vejam bem, a Kylie Jenner, aquela moça pode ser qualquer coisa no mundo, menos bonita. Na verdade, ela já foi bem agradável aos olhos, antes de deformar o rosto com plásticas loucas. Mas todo mundo quer ser Kylie Jenner. O povo vai às lágrimas por ela, que não faz nada da vida (ela não canta, não escreve, não dança, não interpreta, não cria... nada). Ela é rica. E irmã da Kim Kardashian, que também é rica. A única ventura delas é que são filhas da Kris Jenner, que é uma figura, tipo a Gretchen, só que amiga do Lagerfeld. Se bem que... grande merda.

Dia desses, minha caçula me mostrou uma Youtuber negra num vídeo chorando porque estava cansada de não encontrar maquiagem pra pele negra. CHORANDO. É de cair a @ da bunda. Eu sou preta, gente. Não encontro base, corretivo, pó (dignidade humana também falta) desde os tempos em que se passava urucum na cara. E daí? É chato, mas que se lasque! Estou mais interessada em galgar meu espaço e me firmar nele, caso contrário, me derrubam sinistro, porque se mulher já não é considerada gente (e essa é a verdadeira luta do feminismo, pra nós, mulheres, sermos reconhecidas como seres humanos), pra mulher preta, pobre e nordestina é um tantinho pior, sabe? A criaturinha podendo fazer um canal massa, sobre empoderamento através da maquiagem ou até, olha que louco, algo mais relevante, tipo, cursos de maquiagem pra formar outras meninas, pra que tenham uma profissão e que não dependam de seu ninguém (liberdade, independência). Mas não, vai chorar pitanga porque cansou o vans de ir atrás de base. MEU POVO... MELHORE!

Imagem: Eu AMO! É duma moça de Hamburg (Alemanha) dentro da Weekday Store, numa festa de lançamento, em 2010. Pensando sério em fazer uma versão dessas pra mim, quiça trocando fashion blogger por digital influencers.

P.S.: Pra quem ainda não leu a Divina Comédia, a referência do título do post, o oitavo círculo é pra gente que é uma fraud. Inté.



2 comentários :

Sejam educados, seus lindos!

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