domingo, 25 de agosto de 2019

Bacurau - Você não quer conhecer a nossa história?



"Estamos sob a ação de forte psicotrópico. Tu vai morrer."

Não sei se um dia deixarei de me sentir impactada por Bacurau, última realização dos maravilhosos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Bacurau, que é ave braba que só sai à noite, que batiza o vilarejo onde se passa a nossa distopia faroéstica. E fui ter com Bacurau sem ler quase nadinha sobre, como tem que ser quando o filme presta. É quase uma atitude vintage, como quando a gente frequentava as salas de exibição lendo um parágrafo ou dois na revista Set (gente, a revista Set).

O que eu sabia do filme? Que era um western com algo de ficção científica. Acho que a pessoa que escreveu isso esqueceu da palavra distopia, talvez sob o efeito de estar vivenciando uma agorinha mesmo no Brasil. Traumas à parte, a palavra certa pra Bacurau é distopia da peste e, na coisa do western (faroeste), Kleber Mendonça reinventa e melhora, engrandece e agiganta esse gênero tão norte-americano e também por isso, tão cafona, e o que é melhor, pra meter bala nos fi duma égua.

E se você for sudestino/sulista e não for uma pessoa auto-crítica, e não reconhecer toda a xenofobia, racismo, em suma, falta de decência de algumas várias pessoas dessas regiões, pode ser que você se ofenda. Ou não, vai saber. Porque é bem fácil estar do lado que ridiculariza os cabeças-chatas, paraíbas, paus-de-arara ignorantes dos nove estados do Nordeste, mas quando a posição se inverte, quando se enfia o dedo na chaga aberta da violência e do preconceito que humilha e mata, a experiência pode ser um pouco cáustica. Ademais meu amigo, se você é capaz, mesmo não sendo nordestino, de reconhecer todas essas coisas e se indignar, porque no final das contas, não tem descendência italiana, alemã que faça ninguém do Brasil ser visto como um igual na baixa da égua da gringa, porque nem de binóculos, cara a cara, eles te enxergarão como igual, aí sim, a epifania vai bater forte. Pode até ser que você consiga chegar ao riso catártico da minha sala de exibição lotaaaada no Dragão do Mar aqui em Fortaleza, colada com a Praia Iracema, a delícia do escárnio e da revanche, que é uma espécie de resistência aqui por essas terras.

Aí você decide, se você quer viver ou se você quer morrer, escolha e responda o título dessa postagem. 

E dá-lhe Lunga!



Nenhum comentário :

Postar um comentário

Sejam educados, seus lindos!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...