segunda-feira, 16 de março de 2020

Diário de quarentena I


Não sei vocês, mas até onde eu sei, quarentena consiste em uma reclusão de gente pelo período de 40 dias. Por aqui, são 15. Como estou bem apavorada com tudo que está acontecendo, eu realmente queria ficar em casa, super praticando o distanciamento social durante quarenta dias. Eu me sentiria mais segura. Mas, até segunda ordem, volto dia 2 de abril a dar aula, sem a menor vontade, morrendo de medo.

Daí que decidi escrever uma espécie de diário dessa quarentena xexelenta, escrever ao menos um pouco, já que blogs se tratam disso (pra mim, pelo menos). Só coloquei no ar agora, porque os primeiros dias dessa merda foram tão tensos que eu escrevia pra não ficar doida. Escrever sempre me ajudou muito a aliviar um tantinho esse monte de coisa ruim que eu sinto, como se eu vivesse batendo o dedo mindinho do meu espírito na quina da mesa da vida e escrever fosse tipo, um emplasto sabiá.



16 de março de 2020

Querido diário da quarentena xexelenta. Por que não estou de quarentena, com esse vírus assassino no ar da minha cidade?

Bibi passou carnaval em Minas e veio de lá meio doente, uma tosse que não passa, um mal estar que não passa, me deixando meio com um pânico que não passa. Ela sempre fica doente no começo do ano, em especial em março. Mas, tinha que ser no mês do meu aniversário? Sim, é o mês do meu aniversário. Não é ótimo?

Nem sei como consegui dar aula. Esqueci todos os conteúdos. Eu só pensava em: eu tenho lupus, vou morrer nessa merda. Bem, metade do povo (alunos) faltou e eu entendo. Anos atrás, durante a epidemia de H1N1, estávamos no Rio e meus erês todos ficaram em casa antes mesmo das autoridades mandarem.

Vamos ver como fica, (des) querido diário.



17 de março de 2020

Hoje já cheguei ao trabalho com a notícia do recesso até o dia dois de abril. Mas, dei aula "normal" (ênfase nas aspas). Antes, todos foram reunidos na quadro pra receber as informações gerais. Sei que não tinha outro jeito, nossa escola é pequena e tal, mas não consegui evitar de pensar que não deveríamos estar todos reunidos numa quadra fechada.

Geralmente, quando chega minha hora, eu saio da escola muito rápido, mas dessa vez eu saí da escola tipo The Flash. Sempre fico muito feliz em voltar pra casa, mas hoje eu quase choro de alegria.

Apesar de que precisamos ficar em casa, que é o certo pra tentar conter a epidemia, eu precisei sair, pois março, além de ser meu aniversário, é também o aniversário da minha caçula e eu queria muito fazer algo especial pra ela, pois tivemos anos bem difíceis desde que saímos do Rio. Não tem sido fácil pra nenhum de nós, mas pra ela tem sido um pouco pior.

Fizemos um tour por alguns mercados da Aldeota (é meio a Zona Sul do Rio), tipo Campachi, São Luiz, Pão de Açúcar, Mercadinho Japonês. Coisas pro aniversário, compras pra casa e voltamos cedinho, o mais rápido que deu.

Estou mais tranquila que ficarei em casa ao menos alguns dias.



18 de março de 2020

Bibi só piora. Não tem febre, mas um mal estar que não melhora. Não consigo ficar em paz um minuto. Pensei que essa porqueira de quarentena serviria pra descansar um pouco a minha cabeça, mas não. 

Como ela se queixa muito de dores articulares e agora, dificuldade pra andar, acho melhor levá-la ao médico.

***

Foi atendida mas não foi. Atendimento ruim, não foi medicada. passaram uns remédios, um soro reidratante (?).

Que dia longo.



19 de março de 2020

Levamos Bibi de novo ao médico, mas no pronto atendimento só recebiam quem chegava com suspeita de covid-19. Meio que tendo uma crise de pânico me perguntando o que fazer com uma filha dizendo que não conseguia andar. Um anjo em forma de velhinha me deu a dica de um hospital que o atendimento funcionava. Atravessamos a cidade até lá. Já reparou que essas cosias nunca ficam perto da gente? 

Chegando lá, parecia uma instalação de Chernobyl, o que não me ajudou em termos de esperança. E, numa noite que teve de tudo, mulheres em trabalho de parto e pessoas morrendo, sim, Bibi foi atendida, medicada, saiu com receita de remédio e foi dormir dizendo que se sentia levemente melhor.

Acho que vou chorar até dormir.



20 de março

No  primeiro dia com todo o comércio fechado, menos as Lojas Americanas, saí pra tentar comprar uma lembrancinha pra minha caçula. Ela se queixava que eu não fazia surpresas pra ela desde o Rio. Eu não faço tanta coisa desde o Rio.

Parecia um domingo fora do lugar, tudo fechado, mas ainda com muita gente na rua. Tive que me contentar em comprar algumas coisas que eu pensei, pra surpresa da minha filha, nas Americanas mesmo. O rapaz que me atendeu morrendo de medo, disse pra mim que queria muito ir pra casa. Fiquei de coração partido, torcendo por ele, torcendo por todos. 

Bibi terminou o dia bem melhor.



21 de março

Chegou o aniversário da minha caçulinha! Casa arrumada, festa só pra gente aqui em casa, mas tivemos que sair pra pegar o bolo na Tortelê da Aldeota. Pegamos um taxista maluco, que dirigia tipo Mad Max. O bolo sofreu umas leves avarias no percurso, mas conseguimos salvá-lo.

Foi um dia leve e bonito em meio a tudo o que está acontecendo.   

Muita gente nas ruas ainda, gente usando máscara sem necessidade, gente idosa se expondo. 

Bibi sem dores!



22 de março 

Dia tranquilo finalmente. Maratona de filme de terror trash na Prime e na Netflix. Não, nada de epidemia, nem doenças que geram zumbis etc.

O segundo episódio da terceira temporada de Westworld foi muito bom. O primeiro eu não sei se gostei. Muito cyber punk, apesar de que gosto de cyber punk. Eu sei lá. 



23 de março

Fui até a casa da minha mãe ver como ela estava. Está bem segura, tomou a vacina contra gripe. Tudo certo com ela, que está fazendo o certo, ficando em casa com sua calopsita.

Passei no Extra perto da minha mãe e comprei um conjunto de talheres rosa pastel, coisinha mais linda. 



24 de março

Meu aniversário.

Acordei bem cedinho, como sempre, fiz faxina e bolo pra mim: limão siciliano e geleia de framboesa que eu mesma fiz (comprei as framboesas no Campachi). Minha caçula fez café da manhã pra mim.

Foi meu primeiro dia de home office de fato. Planejei aulas futuras, fiz provas e o roteiro de estudos pros alunos. 



25 de março

Fiz maratona do Monstro do Pântano (Swamp Thing). Amei a série. É muito triste o que acontece com Alec. É muito triste que a série foi cancelada. Falta o último episódio que vai ao ar dia 27 agora.

Fui inventar de assistir Globo News pra ficar em pânico de novo.



26 de março

Fiz maratona The Circle Brasil (é o Big Brother da NetFlix, mas não é o público que escolhe os vencedores - e é? - mas eles mesmos, os participantes). Só a Marina e a Lolô prestavam. 



27 de março 

Fora uns filminhos de terror pela Prime e NetFlix, fieis companheiras da quarentena xexelenta,i o que mais marcou o dia, até mesmo pra essa pagã aqui, foi a cerimônia Urbi et Orbi, a benção que o Papa faz durante a Páscoa. Acho que pela primeira vez praticamente sozinho na imensa praça São Pedro. Muito simbólico e triste. Estamos vivenciando história nesse momento. Para o bem e para o mal.

E me despedi de Swamp Thing num misto de alegria, porque a série foi muito boa e trsteza, porque só teremos uma temporada.

Até agora foi isso.












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