sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Mês do Terror - O Iluminado



“Only work and no play makes Jack a dull boy” 

Recentemente assisti Room 237, documentário, dirigido por Rodney Ascher e lançado em 2012, que revela algumas teorias implícitas e mensagens subliminares presentes na versão para o cinema de O Iluminado, versão essa do nosso querido Stanley Kubrick. O livro a gente sabe que é Stephen King que por sinal, odiava Stanley Kubrick.

Adendo: prometi  falar algo sobre a pinimba entre Kubrick e King. Cumprirei em breve.

 O filme deixa claro que, mesmo após tantos estudos, provavelmente ainda há mais mensagens que não foram descobertas pelos estudiosos da obra. E olha que o filme foi super dissecado. Inclusive foi visto por gente maluca por Kubrick, de todas as formas possíveis: de trás para frente e sobreposto ao original. E eu acho isso tudo muito interessante, mas, ao mesmo tempo, aborrecido, porque né, Kubrick modificou consideravelmente a história em relação ao romance original. O labirinto, por exemplo, sequer existe no livro e seria uma referência ao mito do Minotauro, que super faz sentido, mas é uma avacalhação com o autor. Duchamp adoraria.

O certo é que o filme traz muitas referências da mitologia do universo kubrikiano, mas o que mais me chama a atenção é a tensão entre o delírio e o fantasmagórico: em que lugar os personagens se encontram, sabe como? Se na versão literária de O Iluminado temos uma construção psicológica que direciona a narrativa para os acontecimentos que se passam no Overlook, o filme de Kubrick, ao contrário, não nos conta nada. E de propósito. 

Na amplitude lúgubre colorida do hotel, a sensação de insegurança nos faz descartar todo o background da família Torrance, para centrar a constructo imagético no Overlock. Prédios são elementos utilizados por ele para criar uma atmosfera de dúvida, deixar o espectador com a sensação perene de que algo não está certo. Um dos aspectos decisivos para o sucesso visual do filme foi o uso ostensivo da steadicam, técnica de filmagem que havia acabado de ser criada. Com a câmera móvel, acompanhando as andanças dos personagens pelo hotel, Kubrick, ao contrário da estética clássica do terror, que sempre optou por esconder o ponto de ação, o diretor deixa sempre o cenário muito amplo e visível, o que coloca o espectador dentro da cena. Os passeios de velotrol de Danny pelos corredores do hotel, estamos sempre no ângulo de visão do pobre Dany, sob a imensidão quase opressora do prédio, a cada curva um novo corredor, a expectativa de encontrar algo ou ser encontrado pelo Overlook.

Ápice da loucura em palavras repetidas, Jack pretende terminar seu livro durante seu período como zelador. Esse trabalho literário de Jack aparece no livro, mas não tem tanto destaque como no filme de Kubrick, que utiliza a frase “Only work and no play makes Jack a dull boy” repetidas vezes ao longo dos originais para dar forma a uma das cenas mais perturbadoras do filme, o momento em que a loucura do protagonista se torna insuperável. 

Boo.


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