sábado, 31 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Rose Red



E para encerrar as postagens de Halloween, a minissérie de terror, criação do nosso querido Stephen King, que por sinal participa do filme como entregador de pizza.

Originalmente Rose Red foi ao ar em três episódios e foi inspirado levemente no romance "The Haunting of Hill House" de Shirley Jackson, que virou filme em "Desafio ao Além", de Robert Wise, e "A Casa Amaldiçoada", de Jan De Bont. 

O enredo é bem interessante, uma excursão de médiuns e parapsicólogos a uma casa assombrada com um passado terrível, Rose Red, em que o intuito é comprovar de maneira factual que fantasmas existem.

Por causa da longa duração foi possível construir de maneira muito detalhada a história de tragédias da casa, além de desenvolver alguns dos personagens principais do grupo de paranormais, todos muito interessantes. 

 King e o diretor Baxley conseguem criar um clima perfeito de filme de terror somente fazendo com que os personagens contem histórias sobre a casa e conversando sobre seus poderes, tudo isso na primeira metade da trama. O que gera uma grande expectativa do que irão encontrar quando finalmente entram na casa, o que acontece só na segunda parte.  Confesso que essa segunda parte o clima meio que se perde, pois tudo parece corrido e sem muita explicação. Alguns personagens têm destinos confusos, não deixa de ser assustador.

Como disse o próprio Stephen King no texto de Rose Red: casas são corpos que nos protegem, têm vida, às vezes, quando tudo está em silencio, conseguimos ouvir a respiração da casa. Quando estão assombradas é que na verdade estão doentes, então uma casa assombrada é como uma pessoa doente.

Boo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Sessão 9



Outro filme que assisti faz pouco tempo. Infelizmente esse filme foi lançado no mesmo ano que Os Outros e ficou sob sua sombra, ficando quase que completamente desconhecido, o que é um erro, pois o filme é muito bom. Em resumo, Sessão 9 é mais ou menos O Iluminado (o filme inclusive é dividido em capítulos, como O Iluminado), só que muuuito bizarro e, num sanatório abandonado. Treta, né? Sinistra. 

O imenso ambiente usado na produção é o conhecido Danvers State Hospital, apelidado por um dos personagens como morcegão, devido a sua estrutura que lembra um morcego com as asas abertas (e eu não entraria nesse troço nem me pagando... se bem que...). Sessão 9 é um horror psicológico envolvendo insanidade e desespero. Sua trama complexa, repleta de mensagens subliminares, permite diversas teorias e conclusões. Filmes que fazem pensar, permitem interpretações e tratam da loucura e do horror psicológico sempre trazem bons resultados. 

No enredo, cinco homens são contratados para limpar o amianto de um hospital psiquiátrico abandonado. Liderados por Gordon Fleming (Peter Mullan) e Phil (David Caruso), o grupo assume a tarefa de cumprir o vasto trabalho em apenas uma semana, já que temem perder o cliente para uma equipe rival. 

As personagens são quase reais, com seus conflitos internos e amarguras. Gordon, por exemplo, acaba de ter filho e está satisfeito com o seu casamento, embora na primeira noite demonstre que algo estranho possa ter ocorrido durante uma visita; um grito de mulher acaba se misturando ao som das máquinas, justificando essa possibilidade. Phil está amargurado por ter perdido sua mulher para o colega oportunista Hank (Josh Lucas), mas sabe que terá que se acostumar com esse fato pelo bem da execução do trabalho. Há também o garoto Jeff (Brendan Sexton III), que sofre de nictofobia (medo do escuro) e é vítima de um momento assustador, quando ocorre uma queda de energia, mesmo que isso não sirva para a trama em si. E ainda tem o futuro advogado Mike (Stephen Gevedon), cuja curiosidade por evidências irá trazer à tona o drama da paciente esquizofrênica Mary Hobbes e suas três personalidades sinistras: princesa, Bill e Simon, cada um com sua característica própria, com o último só se manifestando na sessão 9 das terapias realizadas. Essa parte é muito bizarra, envolve sandice, rituais escatológicos, treta.

Daí o povo começa a sumir, daí ninguém liga e continua fazendo o serviço e as coisas só se complicam: loucura, possessão, o diabo a quatro até o clímax. Tem no NetFlix para assistir.

E a cadeira? Alguém em explica.

Boo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mês do Halloween - A Troca (Changelling)



O título original é quase o mesmo do filme dirigido por Clint Eastwood em 2008, mas o longa feito quase três décadas antes pelo húngaro Peter Medak no Canadá não tem nada a ver com o filme de Eastwood (que por sinal é muito bom). 

Intermediário do Diabo ou simplesmente A Troca é um clássico filme sobre uma casa mal assombrada, um dos melhores que eu já assisti e olha que só fui conhecer há pouco tempo, estva na minha lista de filmes tem-que-ver e lamento não ter assistido antes. 

George C. Scott é um compositor e professor de música que vivia em NY, até que sua vida repentinamente muda quando perde a família num acidente, que se tornou uma das cenas de abertura mais fortes da época, e vai morar numa mansão abandonada. 

Russel decide mudar-se para Washington, para ter um novo recomeço, e aluga uma grande e antiga mansão. Não leva muito tempo para que o Dr. Russell comece a perceber que há algo estranho nessa casa. Uma inesperada companhia ronda a velha mansão. Ele começa a ouvir sons de janelas e portas, que se abrem e fecham. Intrigado, Russell decide investigar o passado da mansão e descobre que um assassinato ocorreu naquele lugar. A vítima, uma criança. Um mistério que está relacionado a um poderoso senador norte-americano.

O diretor fez um trabalho incrível, comanda essa história como um maestro, coordenando as cenas de aparição do fantasma com uma habilidade rara. Mesmo quando é explícito, o filme tem um extremo bom gosto visual. A trilha sonora e a sonoplastia também são ótimos, mas o que deixa este filme diferenciado é como se desenvolve o mistério sobre a identidade do fantasma com um thriller impecável.

Boo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Os Fantasmas se Divertem



O primeiro filme de Tim Burton que assisti, Tim Burton que é um dos meus diretores favoritos, como vocês bem sabem. Como não amar Bettlejuice (Beetlejuice, Beetlejuice)? Pois então.

O filme completou 25 anos em 2013, estreiou em 198 e foi um sucesso de bilheteria na época, arrecadando nos milhões, o certo é que o filme virou cult.

O enredo é bizarro, mas muito divertido (e um pouco assustador): Um casal fofinho, desses interioranos e felizes com a vida pacata, morrem num acidente de carro, mas acontece que suas almas ficam presas à casa onde viviam e eis que uma família dessas moderninhas compram a casa e passam a morar lá. daí o casla tenta assustar os novos donos da casa, não se saem muito bem, porque né, eles são fofinhos, e é aí que entra o nosso querido bio-exorcista Beetlejuice, com péssimas intenções, obviamente.

Curiosidades: Michael Keaton filmou sua participação em apenas duas semanas e, apesar de ser o personagem título, aparece em pouco mais de 17 dos 92 minutos de filme; o estúdio não gostava do título original Beetlejuice, inspirado na constelação Betelgeusem, e queria batizar o filme de House Ghosts; Jack Skellington, personagem protagonista de O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas, 1993), aparece pela primeira vez em Os Fantasmas se Divertem (a caveira sorridente aparece no topo do chapéu circo/carrossel de Beetlejuice); O roteiro original de Michael McDowell descrevia Beetlejuice como um demônio reptiliano alado e seria um filme de horror puro, sem espaço para a comédia; a famosa cena do jantar seria embalada por uma música do grupo The Ink Spots, mas Jeffrey Jones e Catherine O'Hara achavam que a trilha deveria ser algo na linha do calipso, estilo musical afro-caribenho. Foi aí que Danny Elfman sugeriu "Banana Boat Song" de Harry Belafonte; Beetlejuice usa diversos figurinos ao longo do filme, incluindo, além do famoso terno listrado, trajes de cowboy, guia de turismo, detetive dos anos 40, roupão de banho e um smoking rosa; pelas persianas da sala em que Adam e Barbara esperam é possível ver dois esqueletos coloridos que depois seriam vistos em Marte Ataca! (1996), além de um homem de terno preto.

Boo.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mês do Halloween - A Casa Monstro



Quem me conhece sabe que eu amo animação, inclusive alguns dos meus filmes favoritos são animações. Mas confesso que nunca me animei para assistir A Casa Monstro, apesar de ser uma animação, apesar de ter uma temática terror, mesmo que terror para criança (como O Estanho Mundo de Jack). E só fui assistir um dia desses. Antes tarde do que nunca.

O enredo é muito interessante, porque é literalmente uma história de casa assombrada, mais ou menos como a história de Rose Red, que encerrará nossos posts de Halloween. Tudo parecia normal, até que Dj Walters percebe que a casa de seu vizinho costuma deixar as crianças que passam por ali com medo, e assim começa a investigar o motivo. Daí seu amigo Bocão estava brincando com uma bola de basquete que cai no gramado da casa do vizinho, quando DJ vai tentar pegá-la, o dono da casa, Epaminondas, aparece para assustar os meninos, só que ele sofre um ataque cardíaco e é levado pela ambulância. 

Enquanto os meninos pensavam que o velho estava morto, percebem que a casa parece que tem vida. E tem mesmo (daí casa monstro), e com a ajuda de Jenny, uma garota que conheceram por acaso, começam a ventura de enfrentar a casa e descobrir o que está acontecendo. O roteiro é muito original, o filme caminha de uma forma tranquila e rápida, assistam.

Boo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Mês do Halloween - O Horror em Amityville



Foi um dos primeiros filmes de terror que assisti na vida, muito medo só de lembrar. Óbvio que estou falando da primeira versão, de 1979. Fizeram um remake, péssimo, em 2005 que nem vale a pena ser mencionado.

O mais terrível é que o filme é baseado em fatos reais, mais precisamente o caso de 1974, nos Estados Unidos, em que o jovem Ronald DeFeo assassinou brutalmente sua família enquanto dormiam e a explicação: vozes do além o mandaram matar. O outro caso,um ano depois dos assassinatos, a imensa casa que serviu de palco para a carnificina, situada em Amityville, Long Island, recebeu novos moradores, a família Lutz, formada pelo casal George e Kathy, e os três filhos pequenos. mas né, depois de apenas 28 dias eles fugiram desesperados, alegando a existência de entidades malignas assombrando a casa. Ambas as histórias inspiraram o livro (que eu li alguns anos depois de assistir o filme de 1979)

O enredo do filme: uma família está procurando uma nova casa para morar e encontra uma mansão de estilo colonial holandês à venda por uma bagatela. O motivo: um crime hediondo cometido entre suas paredes. Apesar da tragédia ter ocorrido na casa, os Lutz decidem se mudar: gente muito normal. Mas, com o passar dos dias, uma série de acontecimentos estranhos, bizarros e misteriosos, acontecem e é só treta sinistra. O resto do enredo segue mais ou menso o que teria acontecido de verdade com a segunda família, os Lutz.

Boo.

Gif do dia - Amityville



Amityville.

Boo.

domingo, 25 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Misery



“Eu sou sua fã número 1, não se preocupe.. eu vou cuidar de você, eu sou sua fã número 1..” 

Prefiro o nome original por isso não coloquei o título em português que é Louca Obsessão, uma das minhas histórias favorita de Stephen King, que rendeu a indicação (e premiação) ao Oscar para Kathy Bates, interpretando nossa querida e perturbada Anne.

Como já mencionei, o filme é uma adaptação do livro de King e trata de Paul Sheldon (James Caan), um escritor famoso que, depois de sofrer um acidente de carro, acaba nas mãos de Anne (Kathy Bates), uma mulher desequilibrada, que possui uma obsessão doentia pela personagem Misery, protagonista dos livros de Paul, e fica enfurecida ao saber que a personagem morreu no último livro.

Usando de tortura física e psicológica, ela força Paul a escrever um novo capítulo da série, em que ele ressuscite Misery. O filme possui muitas sequências de suspense torturante, e se tornou uma das melhores adaptações de Stephen King.

Os cenários em que certos fãs se envolvem invariavelmente estarão permeados pela histeria, pela agitação e pelo fanatismo, palavra que inclusive deriva de fã. 

No caso do filme, o fanatismo se alia aos distúrbios psicológicos de Annie e essa mistura se torna macabra, intensa e mortal. Podemos notar sua frieza, seu calculismo, seu controle absurdo, comportamento típico dos psicopatas. Notamos também os vários lapsos de personalidade e humor presentes em Anne, talvez causados por distúrbios de personalidade e esquizofrenia.

 O filme conduz um suspense marcante,a todo momento sabemos de o cerco ao redor de Paul vai se fechando e ele vai ficando cada vez mais encurralado nas mãos da Annie, O cenário, a câmera sempre oculta e a própria casa da Annie, com seu visual sombrio, já contribuem para aumentar ainda mais o suspense. O curioso é que em vez de tentar resolver as coisas se desesperando e agindo repentinamente, Paul começa a entrar no jogo que ela faz, barganhando os favores e escrevendo pra ela. 

A história pode chocar, porque é verossímil. Eu mesma já pensei em fazer isso com Martin, autor de Got #euestoubrincando. E o que me choca mais ainda são alguns comportamentos da Annie que são exatamente iguais a de milhões de fãs, inclusive iguais aos meus. A ansiedade para saber o que vai acontecer em cada capítulo, discutir com o autor o que está certo ou o que não está, ficar possesso quando algum personagem que a ama, morre e fazer justiça com as próprias mãos, achar que o autor é um Deus da genialidade e o futuro inteiro de milhares de esperanças dependem das decisões dele, saber de cor e salteado absolutamente tudo da vida dele, até detalhes bisonhos que passariam despercebidos pela maioria. 

Curiosidade: Stephe King criou o enredo do livro quando se recuperava dum atropelamento que quase o matou.

Boo.

Domingo em movimento - O Iluminado


O Iluminado.

Boo.

sábado, 24 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Violência Gratuita



A primeira versão que assisti foi a mais recente, de 2007. Depois procurei a versão original, de uma década antes, mas ambos têm a direção do incrível Haneke e são o mesmo filme, mudando apenas os atores.

Fica a dúvida das razões pelas quais Haneke ter decidido refilmar Violência Gratuita dez anos depois, em 2007, nos Estados Unidos, como disse mudou um quadro ou diálogo sequer, apenas os atores (Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth, Brady Corbet, Boyd Gaines, Siobhan Fallon e Devon Gearhart entram no lugar, mas atuando igualzinho). Até mesmo as locações são cópias fiéis americanas dos cenários europeus. É o tipo de produção restrita aos cinemas de arte e circuitos alternativos, 

Haneke trouxe até nós uma combinação da mais fria mente humana com a crueza das emoções, neste caso aquilo que um ser humano é capaz de fazer por pura diversão, trazendo até um registo tenebroso e chocante como este Funny Games ou Violência Gratuita, é somente um jogo psicologicamente forte que desperta aquilo que mais desumano tem o ser humano. A crueldade das imagens são substituídas por momentos ocultos que transmitem uma carga psicológica no espectador, neste caso não é preciso ver gore ou terror puro para nos sentir assustados, basta saber que a premissa do filme podia acontecer a qualquer um.

 Tudo começou com um simples pedido de ovos e que acabou como um pesadelo sem medida para uma família, que passava férias na sua casa de campo, quando dois jovens cheios de más intenções põem à prova a seu aficção por jogos, digamos, não convencionais. O filme conta com dez personagens, mas são apenas cinco que nos captam a atenção durante todo os 100 minutos de duração. 

No filme, dois jovens simpáticos apresentam-se a uma rica família em férias como convidados de seus vizinhos. Não tarda para que suas sádicas e verdadeiras intenções se desfraldem. As comparações com o clássico Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) de Stanley Kubrick são frequentes, mas um tanto exageradas. Há, sim, uma homenagem escancarada ali ao personagem Alex, de Malcolm McDowell, porém a intenção de Haneke não é copiar, mas questionar a própria platéia, que atua em Violência Gratuita como cúmplice, em uma escancarada crítica ao cinema de violência. Para fazer-se entender, Haneke dá as costas para um dos mais básicos princípios do cinema: a transparência. Trata-se da regra segundo a qual o cineasta e suas intenções como realizador devem dar um passo atrás para não quebrar a ilusão da Sétima Arte. Prova dessa ruptura são os momento em que o personagem Paul conversa diretamente com o público, trazendo-o para dentro do filme ou quando lhe convém, coloca-se à parte do filme, quase como um alter-ego do diretor, reeditando a história segundo sua lógica.

 Michael Haneke é frequentemente chamado de gênio ou de sádico. Eu diria que ele é os dois. Não há consenso sobre a obra do cineasta alemão, a não ser a certeza de que ele é polêmico. Cineasta de filmes perturbadores, voltados a ocorrências violentas e possíveis, divide público e crítica simplesmente porque alguns acreditam que ele vá longe demais em seus retratos, que exigem certo preparo para serem acompanhados. 

 Violência Gratuita é um de seus trabalhos que mais divide opiniões. Esteja você em qualquer um dos lados do espectro, é impossível sair inalterado da projeção, tal a força da tensão criada pelo cineasta nesse violento drama psicológico. 

Boo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Anticristo



Já escrevi sobre esse filme aqui, um dos filmes mais polêmicos do Von Trier, até o advento do Ninfomaníaca, que também já falei sobre.

E sim, Anticristo é um filme de terror e, um filme de terror perturbador. Acusado de misoginia por conta da maneira como a mulher ensandesida é tratada, é preciso atravessar uma espessa camada de fumaça que o separa do espectador.

Anticristo em toda sua deformidade acidental, talvez seja o filme mais íntegro de Lars von Trier desde Dançando no Escuro, o que é, em si, mais uma questão de justeza do que de defesa. Em Ondas do Destino, há uma cena em que Bess (Emily Watson) interrompe um sermão religioso onde se pregava o amor à palavra de Deus: "Não se pode amar uma palavra. Só se pode amar pessoas", ela dizia. Desde Dogville, Lars von Trier deixou de fazer filmes sobre pessoas, e passou a fazer filmes sobre palavras. A metalinguagem e a exposição auto-reflexiva atingiu tais níveis de epidermia que, por vezes, neutralizavam qualquer engajamento possível com o objeto artístico.

O filme marca o retorno da crença de Lars von Trier nas imagens. Os planos em que o pênis de William Dafoe ejacula sangue, ou em que Charlotte Gainsbourg corta o próprio clitoris, podem ser tudo, menos gratuitos. Desde a primeiríssima sequência, é notória a vontade de Trier em usar a câmera para produzir significados e construir um universo simbólico para além do oportunismo dos choques. Do preto e branco ao hiper-slow motion obsceno o diretor começa o filme criando um universo de moral fabular onde tudo é arquetípico e caos, como afirma a raposa na floresta.

O mundo cresceu sob a égide do fálico, sob um mundo patriarcal, mundo esse erguido após séculos e séculos de opressão, perseguição e morte do gênero feminino. Como a maioria dos crimes apresentam o seu mentor intelectual, podemos afirmar que, no caso do feminicídio, foi a igreja Católica. Um dos principais mitos que compõem a Bíblia, o de Adão e Eva, pode ser considerado a origem do feminicídio. E o feminicídio na Idade Média é o tema de estudo de Ela, personagem vivida de forma incrível pela atriz Charlotte Gainsbourg. Ela é casada com Ele (Willem Dafoe), e divide com ele a culpa de um acidente que poderia ter sido evitado: a morte de seu filho após cair da janela de casa (enquanto eles transavam loucamente. 

Após o prólogo, é assim que Trier nomeia essa parte do filme, tudo parece cair num profundo pesadelo. Sentindo-se culpada, Ela passa um mês em estado de luto, conforme os médicos classificam. Cansado do tratamento que é aplicado à sua esposa, Ele decide retirá-la do hospital e, como terapeuta que é, ele mesmo cuidar dela. Profundamente depressiva e sofredora, Ela inicia o tratamento que seu marido se propôs levar a cabo. A base desse tratamento é descobrir o que mais Ela teme e fazê-la enfrentar esse medo. O resultado é completamente diferente do esperado e uma série de acontecimentos estranhos acontecem, despertando em Ela um instinto assassino. 

 Esse seria o resumo do filme, caso não fosse uma obra de Lars von Trier. Recheando-o de símbolos e alegorias uns bastante compreensíveis, outros nem tanto, o diretor faz desse simples roteiro uma obra que vai de encontro a toda uma tradição cultural do ocidente. 

Adão e Eva foi o primeiro casal que habitou o planeta, segundo a tradição cristã. Para outros segmentos religiosos, o mito de Adão e Eva é apenas parte da verdadeira história, que teria sido moldada pela igreja Católica. Para a Cabala, segmento religioso-filosófico do judaísmo, Adão teria sido criado homem e mulher ao mesmo tempo e, na sequência, dividido. Assim teria surgido Lilith. Deus deu-a em casamento a Adão, mas ela não aceitou se submeter e fugiu do Paraíso, seguindo os passos do diabo. Esse teria sido o princípio da divergência entre o homem e a mulher, entre o Ele e o Ela. Lilith é vista como um símbolo da não-submissão feminina. Von Trier resgata o mito de Lilith, evidenciado, de início, por meio dos nomes dos personagens. Ao optar por não nomeá-los, chamando-os apenas Ele e Ela, Trier deixa claro que o confronto gira em torno de uma disputa sexual. Em uma sinopse do filme divulgada antes do lançamento, dizia-se que o filme contava a história da criação do mundo pela ótica do Demônio. E é isso que acontece. 

 Após a perda do filho, Ela afirma que no último verão havia estado no Éden para estudar com mais tranquilidade o feminicídio para sua tese, porém algo estranho a fez perder a concentração e não concluir seus estudos. Esse “algo estranho” que Ela afirma ter sentido, foi uma espécie de insight provocado pelos seus estudos, que a fez ver a verdadeira condição da mulher dentro da sociedade, só que essa percepção acontece em seu inconsciente. É por esse motivo que ao voltar ao local, dessa vez para o tratamento, Ela parece ser acometida de dupla personalidade, uma violenta e instintiva (Lilith), e outra insegura, medrosa (ela mesma). Trabalhando com as imagens sugeridas, Lilith desperta em Ela, e retorna ao paraíso a fim de recontar a história humana como a vê: ela quer, dessa vez, submeter o homem ao julgo da mulher. Para colocá-lo ainda mais ciente do que é ser mulher na sociedade patriarcal, Ela prende à perna de seu esposo uma roda de concreto, uma referência ao peso da culpa que todas as mulheres carregam ao longo da história. Porém, a personagem é, a partir do momento que chega ao Éden, um constante embate entre Lilith e Ela, a força de uma, contra a submissão da outra. Após Lilith possuir Ele, o lado inseguro da personagem reaparece e, dando-se conta do que havia feito, pune-se cortando o próprio clitóris. 

 É nesse contexto que surge a imagem do Anticristo, pois, ao ir de encontro ao patriarcalismo, ao feminicídio e aos valores pregados em relação à mulher, Von Trier ataca, principalmente, a igreja Católica, por ser a difusora desses valores e, consequentemente, Jesus Cristo, símbolo da instituição. 

O nome do filme é um tributo a Friedrich Nietzsche, um dos principais pensadores da filosofia mundial e responsável por construir uma linha de raciocínio que ataca toda a moral ocidental erguida pelo Cristianismo. Segundo o diretor afirmou em entrevista, o Anticristo do filósofo é seu livro de cabeceira. 

E as alegrorias que o filme constrói? A queda do bebê representa a queda da inocência? E o filhote de veado natimorto? A raposa que come suas próprias entranhas? O defeito no calcanhar da criança?Semana passada conversando com meus alunos afirmei que as grandes obras não nos dão respostas, mas sim, nos enchem de perguntas. è isso que Anticristo faz.

Boo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Cidade dos Sonhos



Alguns podem me considerar louca de incluir um filme de David Lynch numa lista de filmes de Halloween, mas devo retrucar e dizer que você que pensa assim, decerto não assistiu os mesmos filmes que eu, porque a estética de David Lynch, surrealista, é uma estética do medo, do desespero, da loucura, ou seja, do terror, só que um terror requintado.

Depois de se emocionarem ao ouvir uma apresentação musical dentro do Clube Silêncio, em que o apresentador afirma que Non hay banda, Betty (Naomi Watts) e Rita (Laura Harring) notam subitamente a presença de uma chave azul dentro da bolsa de Betty. A chave abre uma misteriosa caixinha azul de procedência indefinida, achada na bolsa de Rita um dia antes. A partir do momento em que as duas decidem abrir essa caixa, finalmente Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001) deixa de rodear o sombrio e o bizarro para sugar personagens e espectadores para seu labirinto de enigmas e sensações. A partir daí tudo o que vimos até o momento desmorona e o verdadeiro Lynch então latente escapa e abraça o universo que escolheu retratar em seu filme: o mundo dos sonhos perdidos de Hollywood. 

 Mas antes de chegarmos a esse ponto, temos construída uma base nada linear para a história. Sabemos que Rita é somente um nome aleatório escolhido para identificar a mulher estranha que apareceu escondida no novo apartamento de Betty, depois de ter sofrido um acidente de carro e perdido a memória. Rita quer saber de onde veio, quem é, e para onde estava indo com aquela bolsa cheia de dinheiro, quando houve o acidente que lhe roubou as lembranças. Betty acaba de vir do interior com o sonho de virar uma grande atriz de Hollywood, mas diante do problema daquela mulher misteriosa e sem nome, foi impossível ficar indiferente, e agora ambas devem descobrir os passos que Rita percorreu até chegar ali. 

Do outro lado de Los Angeles se desenrola a história do cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), que é obrigado pela máfia a escalar determinada atriz para protagonizar seu próximo filme. Entre essas duas tramas paralelas, há pequenos indícios e detalhes bizarros, que parecem indicar um perigo iminente. E esse é um dos pontos fortes de Cidade dos Sonhos, há sempre uma ameaça no ar, mas nunca há informações o suficiente que a concretizem ou que pelo menos deem uma pista sobre o que se trata exatamente, porque estamos numa cidade dos sonhos em que non hay banda

De repente, aquela aura de sonho e magia se corrompe com a inserção de elementos de pesadelo insistindo em se infiltrar (o cowboy, o mendigo, as figuras estranhas a se apresentarem no Clube do Silêncio, o misterioso casal de velhinhos que viaja com Betty, etc.). A única exceção é Betty, que vem para Los Angeles, fica em um apartamento estiloso na Sunset Boulevard, arrasa em um teste para conseguir seu primeiro papel como atriz, e ainda acaba faturando no amor ao se apaixonar por Rita. Por que será então que neste filme somente os sonhos de Betty se tornam realidade? Embora seja um equívoco tentar achar liga para todas as questões que permeiam Cidade dos Sonhos, assim como é vão tentar entender plenamente um filme de David Lynch, dá para se ter uma noção do que realmente está acontecendo, principalmente a partir do ponto em que a caixa azul nos suga para um universo mais sombrio, ou uma espécie de versão de pesadelo para todos os fatos ocorridos até então. 

Agora não existem mais as parceiras Betty e Rita, e sim o casal de namoradas Diane Selwyn (antes Betty) e Camilla Rhodes (Rita), respectivamente. Ambas são atrizes, mas somente Camilla é bem sucedida, enquanto Diane vive de pontas nos filmes de sua amada. Depois de trabalharem em um filme dirigido por Adam Kesher (este o mesmo personagem nos dois tempos do filme), Camilla acaba se apaixonando pelo diretor, deixando Diane e anunciando cruelmente seu noivado na frente de sua ex-namorada. Some-se essa nova trama ao que vemos logo nas primeiras cenas do filme, com uma série de casais dançando, todos com rostos parecidos, que se trocam, se misturam a toda hora, assistidos e aplaudidos por Diane/Betty, ao lado do casal de velhinhos, frisando o jogo de duplicidades e dicotomias, que se faz presente na obra; e na cena seguinte, quando a câmera subjetiva mergulha de cara em um travesseiro. 

Pronto, não é preciso pensar muito para desvendar o primeiro mistério de Cidade dos Sonhos, cujo próprio título nacional denuncia: tudo se trata de um sonho. Mais especificamente, um sonho de Diane Selwyn. Lynch remodelou vários conceitos tradicionais dos filmes de máfia e dos filmes noir para compor um gênero próprio, repleto de onirismo e bizarrices ou lynchinicesmas, ou seja, unicamente assustador. 

Na verdade, apesar de falar de amor, de se enlouquecer (literalemnte ) de coração partido, Cidade dos Sonhos é um filme de tensão e horror. O amor infeliz de uma garota interiorana, que tenta a vida na cidade das ilusões, mas que jamais conseguiu seguir em frente com seu desejo de ser atriz, e que ainda teve seu coração despedaçado pelo amor de sua vida. Ela é a personificação de um típico personagem principal de filmes noir, amargurado, desiludido, traumatizado, passional, e potencialmente perigoso, em especial depois de sofrer nas mãos de uma misteriosa femme fatal, no caso, Rita/Camilla.

Lynch montou uma espécie de protesto, de manifestação contra a imagem de terra dos sonhos de Hollywood, que  ao lado de A Estrada Perdida (Lost Highway, 1997) e Império dos Sonhos (Inland Empire, 2006) forma uma trilogia onírica lynchiana, com intuito de mostrar o plano dos sonhos em seu sentido literal, com uso figurado da palavra para descrever os encantos passageiros, que parecem permear a indústria do cinema, que tanto atrai as pessoas em geral, sempre num contexto de horror, que puxa a trama para um lado voltado para o pesadelo, na desconstrução do sonho, no sentido do desejo.

O Clube do Silêncio dentro de Cidade dos Sonhos e a participação mais pessoal de Lynch dentro dessa história toda. Costumeiras na filmografia de Lynch, as cortinas vermelhas sempre anunciam a chegada de uma grande reviravolta, como se abrissem passagem para que a realidade e a ficção se descortinem e se choquem, e elas se mostram presentes no palco onde se apresentam os participantes da noite no Clube do Silêncio, como o misterioso anfitrião que insiste em dizer que non hay banda. É nesse momento que todas as intenções de Lynch com seu filme se convergem, com a ficção se inserindo na realidade, e vice-versa, quando o sonho começa a desmoronar, e o diretor se comunica diretamente com o espectador, questionando a lucidez daquela história, e como pudemos acreditar até aquele ponto que tudo ali pudesse ser plausível, com tanta bizarrice e nonsense. É apenas um filme. É o momento do chamado para que Diane acorde e encare as consequências de seus atos agora que a chave azul apareceu e trouxe a confirmação da morte de sua amada, unida ao seu lado naquele momento do sonho, mas já morta na realidade; e o chamado do diretor para o público, brincando com o poder ilusionista da imagem, e do cinema em geral. 

Um trabalho que usa o sonho como máscara, que esconde a verdadeira realidade, o verdadeiro “eu” de cada um, assim como em Hollywood, rodeada pela cidade dos sonhos, mas verdadeiramente oposta ao que todos idealizam quando se recai a realidade. Tal como a vizinhança perfeita e quase onírica de Veludo Azul (Blue Velvet, 1986), que esconde por trás de sua fachada um mundo apodrecido e mergulhado em escuridão, ou um pesadelo real. Ou as verdades escondidas por trás da pacata cidadezinha de Twin Peaks, em Twin Peaks, onde uma garota aparentemente comum e ingênua se mostra ser, por trás das máscaras, uma pessoa seriamente perturbada por todo o tipo de assombrações. 

Num plano geral, podemos enxergar na obra de Lynch essa construção da vida ideal americana, que de tão perfeita, só poderia existir em sonhos, e que por isso desaba diante da chegada de um inesperado pesadelo. Basta assistir o canal ID.

Boo.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Seven



Conheci o filme tardiamente, dica de uma conhecida, e foi meu primeiro contato com o trabalho do diretor David Fincher. E é difícil começar uma introdução sem citar um outro filme de Fincher, como Clube da Luta ou Garota Exemplar. Mas vamos logo para Seven. 

Na abertura em flashes do filme vemos o psicopata arrancar a pele dos dedos para retirar suas impressões digitais, evitando com isso, que elas possam ficar gravadas no local do crime. A história do filme se desenrola em sete dias e se passa na chuvosa e sombria cidade de Los Angeles, onde dois detetives, que apresentam características bem diferentes, acabam de se conhecer e são encarregados de uma arriscada investigação. 

Passamos logo para a morte de um homem que havia sido assassinado pela sua esposa. O detetive William Somerset, interpretado por Morgam Freeman, visita o local do crime no exato momento em que o perito afirma: "crime passional". O detetive ironizando responde: "Olhe a paixão na parede". Somerset é um policial maduro, reflexivo, solteiro e solitário, admirado pela sua experiência, mas bastante cansado. A sete dias de sua aposentadoria, conhece o detetive David Mills, interpretado por Brad Pitt, um policial jovem, impetuoso e cheio de ilusões, recém transferido de uma pacata cidade do interior para substituir Somerset. É casado com Tracy, professora de escola primária, interpretada por Gwyneth Paltrow. Somerset, antes de sair de casa, num gesto extremamente simbólico, aciona o metrônomo, disposto sobre sua mesa de cabeceira. A apenas sete dias de se desligar da corporação, acontece o primeiro dos sete crimes capitais. 

 Morgan Freeman é um dos grandes gênios do cinema norte-americano, conhecido também por Conduzindo Miss Daisy, Um Sonho de Liberdade, Menina de Ouro, já foi até Deus rs, fica difícil não ser parcial em relação a Freeman. Do outro lado temos Pitt, excelente ator de filmes alternativos, do tipo que se entrega á personagem e ainda, o genial Kevin Spacey como John Doe (João Ninguém) o psicopata. Conseguir achar algo ruim em Seven é impossível.

Somerset que não vê a hora de deixar seu cargo na polícia para poder descansar, isso até entrar no caso dos sete crimes capitais, caso misterioso e complexo, ao lado do novato Mills. O serial-killer pragmático realiza seu trabalho seguindo os sete pecados capitais, estuda pessoas que cometem gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade e as mata através dos próprios comportamentos, que as levaram a ser escolhidas. 

A complexidade e linearidade muito bem estudada do assassino ao executar seus crimes fecham o filme com um dos finais mais incríveis do cinema. A atuação de Kevin Spacey é espetacular, a indiferença em suas expressões durante o filme mostra bem como age esse tipo de pessoa, para seu personagem, tanto faz morrer, matar ou viver, uma das frases mais marcantes do filme é dita por ele: “Nós vemos um pecado mortal em cada esquina, em cada lar, e o toleramos. Toleramos porque é comum, é trivial” Somerset também possui um diálogo incrível com a esposa de Mills, nesse filme que não é apenas sobre a morte e o serial-killer, mas sim um filme sobre a vida, e o quanto ela é injusta muitas vezes. Ele fala sobre o aborto de uma ex-companheira “não há um dia em que eu não pense que fiz a coisa certa (quando chegaram a conclusão que o honesto seria abortar), mas não há um dia que eu não tenha preferido tomar outra decisão”. E complementa: “como criar um filho neste mundo?”

Se vossa mercê ainda não assistiu Seven, faça o favor.

Boo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Psicose



Um dos clássicos, talvez o maior do gênero suspense, que provoca o terror, Psicose é daqueles filmes que todo e qualquer fã de cinema que se prese já assistiu algumas vezes e que tem como referência.

O filme à época da estreia provocou comoção junto ao público e se tornou uma das obras mais queridas do mestre do suspense Alfred Hitchcock. O roteiro é de Joseph Stefano, baseado em livro de Robert Bloch. Baseada em um romance que teve como inspiração uma série de crimes reais, a produção transformou-se numa verdadeira obsessão para o consagrado diretor e, apesar da desaprovação de seu estúdio, a Paramount, Hitchcock decidiu ir em frente e concretizar sua visão artística, arcando com todos os custos. 

O enredo: a secretária Marion Crane (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares para se casar, e no meio do caminho hospeda-se num motel de beira de estrada, Motel Bates, desses que fazem parte da cultura americana, bem diferentes dos motéis brasileiros. Pois então, ela é assassinada. Parece simples, mas no caso não é, porque estamos tratando com um assassino peculiar, para se dizer o mínimo. O final do filme, que na época de seu lançamento foi surpreendente, ainda hoje causa espanto a cada nova geração de espectadores, que se deliciam com o sarcasmo do bom e velho mestre Hitchkcock. 

A música de Bernard Herrmann virou referência, e apesar do filme já ter completado mais de 40 anos, é uma das mais conhecidas trilhas da historia. Um dos filmes mais cultuados e conhecidos no mundo todo. 

Dois aspectos de destaque, dentre os muitos que chamaram a atenção, as arquiteturas de imagem e de som. Esta comunhão tão perfeita fez, em termos práticos, Bernard Hermann co-autor do filme junto com Alfred Hitchcock. No plano das imagens que falam por si, deliberadamente escolhidas em preto e branco, Hitchcock dispensa os grandes textos para os personagens, e compõem, por questões muito mais estéticas que orçamentarias, um jogo de imagens com temporalidades de calmaria associadas à tensão, um diálogo com o espectador que o prende a todo tempo em seu suspense. Por outro lado, a gestão do som tem um papel espetacular no filme, capaz até hoje de produzir sensações de suspense, arrepio e pânico, em especial na célebre cena do assassinato do chuveiro. 

O som agudo dos violinos no assassinato de Marion, mas também os outros acordes tocados nos demais momentos cruciais do filme (como no momento de sua fuga de Phoenix) acabam por não apenas produzir sensações de suspense nos espectadores, mas praticamente implicá-los como cúmplices na trama. 

O Motel Bates, com sua sinistra casa de três andares, passando pelo banheiro e pelos pântanos onde se tenta esconder o filme, nos ensinam que o lugar não é neutro, mas produz sensações e leituras aos espectadores. É mais que cenário, é também mais um ator em cena: tão sutil quanto imprescindível. 

Está no ar a série bates Motel, mostrando o porquê do nosso querido Norman Bates ser do jeito que é. Vale conferir.

Boo.


Gif do dia - O Orfanato


O Orfanato.

Boo.

domingo, 18 de outubro de 2015

Mês do Halloween - O Labirinto do Fauno



Lembro de quando assisti e minha amiga Jacinta me disse que assistisse sem medo, porque não acontecia nada de mais. Nada de mais? Não acontecia nada de mais? Não, pelo contrário tudo de mais lindo e triste e assustador acontece No labirinto do Fauno de Guillermo del Toro.

Estamos num conto de fadas sombrio, em que acompanhamos as aventuras de nossa querida Ofélia, em busca de escapar da terrível realidade de ser enteada de um facínora sanguinário, O capitão, e de todo o terror do fascismo espanhol.

A mãe de Ofélia viúva, casa-se com um homem terrível, e já espera um filho dele. Ambas vão morar com ele numa propriedade no campo, durante a guerra civil espanhola. Esse capitão é um cruel fascista espanhol, que luta contra os comunistas guerrilheiros da região. Tanto a mãe, que está grávida e fica confinada em um quarto, quanto a filha, que é inocente e pequena de mais para compreender, não conseguem ver isso. 

A Trama gira em torno dos acontecimentos históricos do período e o conto de fadas vivido por Ofélia. Imersa no mundo da fantasia por meio de livros, a menina entre num labirinto antigo, onde encontra um fauno, que a revela várias coisas. Segundo ele, Ofélia é a reencarnação da princesa do submundo, que fugiu do país imerso em sombras, para explorar a superfície, esquecendo de sua vida passada. Agora, que ela voltou, deve cumprir três tarefas para provar que não é completamente humana e, abrir novamente o portal para o submundo. 

Como dito antes, a trama se desenrola entre fantasia e fatos históricos, com uma fotografia incrível e assustadora. É praticamente impossível não se encantar e emocionar com esse assustador conto de fadas.

Boo.

Domingo em movimento - Labirinto do Fauno


sábado, 17 de outubro de 2015

Mês do Halloween - O Orfanato




Laura volta para casa onde passou parte de sua infância. O antigo orfanato agora é a residência da família de Laura, seu marido Carlos e o filho adotado pelo casal, Símon, que tem HIV. O pequeno tem "amigos imaginários", o que para uma criança é normal. Porém Laura começa a ficar desconfiada de que Símon possa estar sofrendo de algum transtorno. 

Em meio a brincadeiras entre ela e o filho, ocorre um descoberta bem interessante, os amigos de Símon não são apenas imaginários. Durante a festa de inauguração da residência, que também servirá de lar para crianças portadoras de necessidades especiais, Símon desaparece. As buscas pela casa não levam a nada e Laura começa a ser testemunha de diversos fenômenos estranhos, bem parecidos com os que Símon alegava ver. 

Pairam dúvidas se esses fenômenos são reais ou se Laura começa a ter devaneios por conta do sumiço do filho. Eventualmente, Símon é encontrado, para o bem e para o mal. Aparentemente, o mistério é desvendado, mas o que preocupava era saber mesmo o destino dos amigos de orfanato de Laura, que apareciam para Símon. Em diversas partes do filme, Laura cita os nomes de todas as crianças com quem ela passou parte de sua infância e há inclusive uma foto mostrando todas. O aparecimento de uma misteriosa personagem contribui para uma trama paralela revelar o que aconteceu com os demais órfãos após a adoção de Laura.

A cena final do filme é profundamente emocionante, e assustadora por conta de seus desdobramentos. Excelente produção de Guillermo del Toro, Guillermo que volta amanhã com seu magnífico Labirinto do fauno.

Boo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Cemitério Maldito



É uma história que, sublimando a coisa do terror, dos cemitérios indígenas amaldiçoados e mortos que volta do além, mas sim do efeito que a morte causa nas pessoas. 

Baseado em um livro de Stephen King com roteiro adaptado pelo próprio, e dirigido por Mary Lambert em 1989, Cemitério Maldito é um filme sobre a morte, o luto e o sepultamento. Seu lado mais perturbador não está ligado ao sobrenatural, e sim no horror de perder um ente querido, horror pelo qual todos nós teremos de passar algum dia. 

 O título original, Pet Sematary (ou “cemitério de bichos”, escrito com a grafia propositalmente errada) se refere ao lugar onde as crianças da cidade de Ludlow, Maine (você que é leitor de Stephen King também teme o Maine?), enterravam seus bichos de estimação, a maioria mortos pelos enormes caminhões que cruzam a estrada principal. Louis Creed (Dale Midkiff) é um médico que acaba de se mudar junto com a esposa Rachel (Denise Crosby) e os filhos Ellie (interpretada pelas gêmeas Beau e Blaze Berdahl) e Gage (o adorável monstrinho Miko Hughes) para os arredores do cemitério de bichos. Com uma casa grande e confortável, um emprego sólido como médico da faculdade local e a agradável vizinhança do simpático Jud Crandall (Fred Gwyne, do seriado Os Monstros, perfeito no papel), a nova vida parece perfeita para os Creed. 

Mas as coisas começam a piorar quando o jovem Victor Pascow (Brad Greenquist) morre no consultório de Louis. Mesmo depois de seu coração parar de bater, ele abre os olhos e avisa ao médico que tentou salvar sua vida sobre o perigo que espera além do cemitério de bichos. Louis se vê confrontado com a morte novamente quando Church, o gato de sua filha, é atropelado na estrada, e em seguida a empregada Missy (Susan Blommaert) se suicida. Ao menos para o gato, Louis encontra uma solução, ao acompanhar Jud para uma área de sepultamento indígena e enterrar o pobre bichinho. 

No dia seguinte, Church está em casa, de volta dos mortos e com um comportamento estranho e agressivo. Poderia terminar aí, mas a maior desgraça da vida de Louis ainda está por vir, e a tentação de ressuscitar os mortos é grande demais, mesmo com consequências aterrorizantes. 

 Cemitério Maldito é cinema de horror puro, daquele que garante sustos, lágrimas e momentos de aflição, e, como toque final, a trilha dos Ramones, que não, não é só uma camiseta usada por gente que nem gosta de música, mas sim é uma banda punk dos anos 1970, das mais importantes, diga-se de passagem. 

Boo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Anjo Malvado



Quando assisti esse filme eu era muito jovem e me lembro que foi exatamente ele que me chamou a atenção para atores crianças, justamente o destaque do filme, concentrado na figura de Macaulay Culkin, dando vida ao perturbador Henry. 

O filme foi lançado há mais de vinte anos, mas sua temática é atemporal. Conta a história de Mark (Elijah Wood) e Henry (Macaulay Culkin), que iniciam uma convivência depois que ambos passam por tragédias familiares.  Cada personagem do filme parece viver sob múltiplas tensões, desde a resistência em sair da fase da negação do luto, até na distorção que fazem da realidade.

 O filme inicia-se com a morte da mãe de Mark e com a influência que suas últimas palavras tiveram na construção que seu filho fez do luto. A mãe disse que sempre estaria com ele, o que poderia ser uma metáfora do amor que os une, no entanto, devido aos momentos de stress que se seguiram à sua morte, Mark acreditou nas palavras de forma literal, assim fez uma projeção de sua mãe na mãe de Henry, com quem foi morar temporariamente em virtude do trabalho do pai.

 A família de Henry vive sob a sombra de um acidente que matou um dos seus filhos (afogado na banheira), deixando a mãe com uma permanente sensação de culpa e dor. Aparentemente, os outros filhos do casal (uma menina de uns 8 anos e Henry) possuem uma rotina normal. Mas, o problema é justamente esse, pois quase tudo parece normal na superfície, mas há uma estranha sombra de horror ao se observar as ações que compõem o dia a dia de Heny.

 A primeira experiência que Mark tem com a face mais obscura de Henry quase custou-lhe a vida. Em uma tentativa de subir na casa da árvore, ele fica a mercê de sua ajuda, pois sem isso muito possivelmente cairia de uma altura imensa e, pela reação de Henry, ele começou a se dar conta do seu estranho senso de humor. Como eles passavam muito tempo juntos, Henry mostrou a Mark muito de sua personalidade, nuanças que os pais não enxergavam por não suportarem o peso do entendimento do que estava sob a superfície. Mark foi percebendo, rapidamente, que Henry não suportava ser contrariado, que mínimas coisas poderiam trazer à tona uma forte irritação. O cão que latia foi um dos seus alvos. Ao mostrar uma arma que inventou ao primo e depois usá-la com a desculpa de assustar o cão, Henry, na verdade, apontou diretamente no animal e o matou. Medo e horror se instalam. E Mark não consegue entender o primo, pela falta de elementos para compreensão. E afinal, alguém consegue entender um psciopata? É disso que o filme trata, da psicopatia infantil.

Segundo estudiosas, psicopatia é um transtorno de personalidade caracterizado por uma série de características afetivas, comportamentais e interpessoais. Recentemente foi proposta uma estrutura de: 1. Estilo interpessoal enganador e arrogante; 2. Experiência afetiva deficiente, com pouca capacidade de sentir remorso, culpa e empatia; 3. Comportamento impulsivo ou irresponsável, incluindo tédio, busca contínua por emoção.

É tudo que Henry demonstra, como no episódio com o cachorro e a terrível sequência da ponte. 

Nesse ponto, Mark já não tinha dúvida da maldade que havia em Henry, maldade que ele não compreendia, mas que estava latente, apesar de distante da percepção dos pais do menino. O stress de ter que proteger a prima, a projeção de sua mãe (representada pela mãe de Henry) e a si próprio desencadeou um transtorno em seu comportamento, o que fazia com que a sua palavra não significasse muita coisa, ainda mais tendo alguém como Henry para manipular tranquilamente os fatos. 

Em uma conversa com a terapeuta, Mark tentou entender que tipo de pessoa era Henry, ao fim do diálogo o terapeuta afirma não acreditar no mal, ao que Mark responde: Pois devia acreditar. 

Filme genial, se ainda não assistiu, assista.

Boo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mês do Halloween - A Órfã



A Órfã nos traz os ótimos Peter Sarsgaard e a sempre maravilhosa Vera Farmiga, que aliás parece gostar de ser atormentada por crianças malévolas (ela está em vários, incluindo Invocação do mal Joshua O Filho do Mal) vivem John e Kate Coleman. Eles são pais de Daniel e Max e parecem formar com eles uma perfeita família, embora Max tenha deficiência auditiva.

Mas só parecem, pois tentam superar um passado recente nebuloso. Entre os segredos, que aos poucos são revelados, é lançado a princípio a perda da filha de Kate enquanto ainda estava grávida. Problemas com o alcoolismo, que a assombram até hoje foi o que a fez sofrer o aborto. Para amenizar a dor, John e Kate adotam Esther (a revelação Isabelle Fuhrman, assustadora) em uma instituição religiosa.

Adorável a princípio, a pequena de origem russa, logo se transforma em uma pessoa perigosa. lembra um pouco O Anjo Malvado (resenha amanhã), na coisa da criança dissimulada, mas apenas lembra, os filmes são sensivelmente diferentes, porque sabemos que Esther não é bem o que aparenta ser, literalmente.

 Temos aqui uma assassina em miniatura que destrói todo um harmonioso laço familiar com hábil poder de manipulação. Se não bastasse a paisagem de inverno, que eu amo, mas que em filmes do gênero passam a sensação de isolamento e abandono, há ainda todo o clima e incerteza e terror psicológico.

Curiosidade: O enredo é baseado em fatos reais, mais precisamente no Caso Kuřim, em que duas irmãs conhecem uma criatura que sofre de um distúrbio glandular que lhe dá a aparência de uma criança. Todas com profundos problemas psiquiátricos são instruídas por uma seita maluca a praticar atos violentos contra crianças, no caso, filhos e sobrinhos das irmãs.

Boo.



terça-feira, 13 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Os Outros



Os Outros foi uma sugestão e amei, porque Os Outros é um dos meus filmes (do gênero) favoritos.

Fora que é um exemplo perfeito de como se contar uma história de fantasmas, mantendo o suspense de forma elegante e realmente assustador. Não sendo necessário grande orçamento, apenas um diretor metódico, um roteiro bem escrito e, é claro, um ótimo elenco, contando com Nicole Kidman, num papel dramático e perturbador.

 O longa conta a história de uma mulher que vive isolada apenas com seus dois filhos em uma enorme mansão. Seus empregados foram embora sem maiores explicações e seu marido foi lutar na segunda grande guerra. Ate que a chegada de três novos empregados, e a suspeita de que uma força sobrenatural se esconde na casa, transformam aquilo que antes era monotonia, em terror. 

Os Outros é um filme em que nada é explícito, não há nenhum efeito especial para atrapalhar o enredo é nos pequenos detalhes que se encontram suas maiores surpresas, assim como em O Sexto Sentido. 

Boo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Mês do Halloween - A Profecia



Filme que assisti na infância, muito tempo atrás. Só fui assistir de novo já adulta, com uma outra visão de cinema etcetera coisa e tal.

A história do filme A Profecia é conhecida de todos, mas não custa contar de novo, já que isso meio que é padrão em resenhas desse tipo (apesar de que não é necessário). O casal Thorn teve um filho natimorto, daí um padre macabro sugere que o pai, um político rico e poderoso chamado Robert Thorn (somente Gregory Peck), adote um moleque cuja mamãe morreu no parto. Muitas mortes. Pois então, Robert acha uma boa ideia e cria o garoto como se fosse filho e sem contar para a esposa, Katherine (Lee Remick). O que ele não imagina é que o bebê é filho do capeta. Coisas estranhas acontecem, mas Robert Thorn não consegue acreditar que a criança é o anticristo, até ser tarde demais, não só para ele, mas também para o mundo.

A Profecia é um filme de horror bem diferente do que a maioria dos fãs do gênero estão acostumados. É tenso, o horror está nas entrelinhas do discurso, na premissa do mal concreto em nossas vidas. Movimentos de câmera são elegantes, característicos da década de 1970. Destaque especial para a criança que dá vida ao nosso Damien (Harvey Stephens) inexpressiva e assustadora. Um clássico do gênero. 

Curiosidade: um episódio de South Park um garoto chamado Damien chega à escola e sim, é o filho do coisa ruim.  A história culmina em uma batalha entre Satã e Jesus (!). Curiosamente, todos os habitantes da cidade apostam em Satã, como sempre.

Boo.

Gif do dia - A Órfã



A Órfã.

Boo.

domingo, 11 de outubro de 2015

Domingo em movimento - Amantes Eternos


Amantes Eternos.

Boo.

Mês do Halloween - Amantes Eternos



Encerro as resenhas de filmes de vampiros para o nosso mês do terror com Only Lovers Left Alive (título lindamente poético) ou em português Amantes Eternos, com os maravilhosos Tom Hiddleston e Tilda Swinton.

Quando  a gente pensa que vampiros já estão saturados em nossa cultura pop, que não há mais meios de renovar o tema, aparece um filme como Amantes Eternos. O cultuado diretor Jim Jarmusch testa sua mão com o mito dos mortos-vivos sedentos de sangue. Tom Hiddleston e Tilda Swinton, como Adão e Eva, os vampiros originais e ao seu lado, John Hurt, Mia Wasikowska, Anton Yelchin e Jeffrey Wright são o elenco dos sonhos. 

 O filme acompanha a existência solitária do casal de vampiros que, separado por um oceano, limita-se a esconder sua existência das pessoas, desfrutar da arte humana e trocar juras de amor infinito pela internet. Jarmusch, que também roteirizou o filme, tem uma visão curiosa sobre os imortais, mais focada em entender o que aconteceria com pessoas que realmente vivessem tanto tempo - e tivessem conhecido algumas das maiores mentes da humanidade. 

Fica de lado todo o suspense inerente aos vampiros, que é substituído pelo fascínio com a ideia de que tais seres ancestrais talvez conheçam todas as línguas, todas as culturas e sejam versados e que ainda, podem ter influenciado e por sua vez, ter sido influenciados por todas as artes já produzidas. 

 O ideal romântico e intelectualizado do vampiro de Jarmusch é inspirador, mas suas criaturas não escapam do mesmo destino conhecido de outras já vistas no cinema: são melancólicas e soturnas, vivem famintas, ainda que racionem sangue em tempos de comida maculada por doenças, e sentem falta dos bons tempos da Idade Média, quando era tranquilo esconder os corpos devorados, algo que foram obrigados a deixar de lado no século 21. 

 A atmosfera criada pelo cineasta é favorecida pela música e a fotografia escura, inspirada em Caravaggio. Curiosamente, o filme lembra muito em temática também a obra em quadrinhos de Neil Gaiman, especificamente Sandman, com Hiddleston com visual de roqueiro pálido e lânguido, desinteressado pela humanidade, que ele chama de zumbis e culpa pela feiúra do mundo. As citações aos inventos de Tesla e desdém pelas nossas instalações elétricas dão um charme especial ao personagem. 

 Adão e Eva, ao final, parecem uma espécie de zeladores da criação artística humana, discutindo artistas e vagando metaforicamente pelas ruas vazias de Detroit, cidade esvaziada pelo colapso econômico, hoje a mais violenta dos EUA. Quando tudo terminar, os dois primeiros também serão os que apagarão as luzes.

Boo.

sábado, 10 de outubro de 2015

Mês do Halloween - A garota que anda à noite



Ao lado de Babadook e Under the skin, foi o melhor filme que assisti em 2014, profundamente melancólico, instigante e renovador do gênero filme de vampiro.

Eu já tirei muita onda de filme iraniano. Não por causa da renomada lentidão, mas sei lá, alguma coisa nos filmes iranianos que assisti não me agradava, sei lá. Mas isso durou até A Girl Walks Home Alone at Night ou em português, A garota que anda à noite. Dirigido pela estreante Ana Lily Amirpour é um filme americano, mas a história se passa no Irã, numa cidade fictícia chamada Bad City, em que coisas estranhas acontecem.

A cidade fantasma iraniana, lar de prostitutas, drogados, cafetões e outras almas perdidas, mergulhas na sordidez e abandono fantasmagórico do contexto, é um bastião da depravação e da falta de esperança, onde uma jovem vampira persegue seus habitantes, digamos mais desagradáveis. 

Ao mesmo tempo em que o longa renova a temática vampírica, resgata alguns elementos primordiais, como evidenciar a essência gótica e melancólica, cuja fotografia em preto e branco só enaltece. O jogo de luzes e sombras é fantástico e casa perfeitamente com a trilha sonora, que é outra grande marca do filme. É simples e por isso mesmo pode parecer vago, porém é preciso estar alerta aos detalhes e se deixar levar pela sensação que o filme provoca. 

Nosso protagonista, o jovem Arash (Arash Marandi) sofre com problemas financeiros por conta do pai viciado em heroína, enquanto a vampira (Sheila Vand) sai pelas ruas em busca de sangue e aproveita para dar uma de justiceira atacando os cidadãos fora da lei. Quando os dois por coincidência se conhecem, o encanto acontece e dá início a um romance atípico. O longa é silencioso e permeado de mistérios, conhecemos um pouco da vida de Arash, mas não sabemos muito do restante dos personagens. A figura enigmática da vampira de burca é algo bastante interessante, porque ela é frágil, mas também assombrosa. 

O filme é baseado numa graphic novel da cineasta e também num curta de 2011 que ela dirigiu. É uma história que passeia pelos velhos clichês envolvendo vampiros, mas que traz uma nova roupagem, principalmente por ser ambientada em uma pequena cidade abandonada do Irã, lugar sombrio repleto de seres decadentes e violentos. A trilha sonora colabora imensamente para a apreciação, músicas dos anos 80 e canções iranianas fazem o diferencial nas cenas, que em sua maioria são estáticas. É um filme cult que proporciona uma nova experiência para admiradores do tema, e assim como.

Boo.

Receita de cookie



Essa semana postei fotinhas dos meus queridos cookies, que sempre causam um impacto, porque as pessoas por aqui não são muito acostumadas com cookies caseiros e eu sempre preferi cookies caseiros do que a versão industrualizada, que sempre é seca e dura de dar desgosto. Tem coisa mais triste do que aquele cookie que vende na Subway?

Tudo bem, nem sempre os fiz, mas sempre invejei família de filme americana e seus cookies caseiros com leite. Daí fui atrás duma receita de cookie e essa que usa, com algumas variações, até hoje.

Prometi para meus alunos do 1ª 1 que ensinaria como fazer e então lá vai, minha receita de cookie americano.



Ingredientes

125 g de manteiga ou margarina em temperatura ambiente;
3/4 xícara de açúcar;
1/2 xícara de açúcar mascavo;
1 ovo;
1 e 3/4 xícara de farinha de trigo;
1 colher (chá) de fermento em pó;
100 g de gotas de chocolate próprias para cookie (pode ser pedaços de chocolate ou M&M também);
1 colher (chá) de essência de baunilha (não é necessário, é só uma frescurinha).

Preparo

Misture a manteiga (ou margarina), o  açúcar mascavo, o açúcar, a essência de baunilha, essa é a base. Adicionar o ovo previamente batido aos poucos; misturar bem. Adicionar a farinha aos poucos, misturando. Uma hora começa a ficar difícil de misturar na colher, passe para a mistura com as mãos. Trabalhe a massa até despregar da vasilha, daí acrescente as gotas de chocolate.

Modele bolinhas pequenas e daí achate-as no formato dos cookies. use gotas de chocolate extras para decorar. Leve ao forno pré-aquecido em fogo alto  numa forma forrada com papel manteiga por aproximadamente 15 à 20 minutos.

Os cookies quando quentes ficam molinhos, espere esfriar que ficarão na textura certa.

Bisous.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Infectado



Um dos melhores filmes que assisti em 2014, contei aqui ó.

Infectado (Afflicted, 2013) é uma produção Canadá e Estados Unidos. Em resumo, dois amigos saem pelo mundo em busca de aventuras, um deles com uma doença terminal. Filmam tudo o que fazem, até que um deles começa a mudar de comportamento radicalmente. 

É um filme de vampiro completamente diferente. Aliás, fora os péssimos crepúsculos, até que a safra de filmes de vampiros dos últimos anos tem sido decente. Confesso que comecei a ver e pensei que estava vendo o filme errado, até porque estava classificado como uma das revelações e destaques de filmes de terror entre 2013 e 2014. Num estilo found footage, que ninguém aguenta mais, o que já deixa as coisas naturalmente chatas, mas na coisa de continuar assistindo, achei bem feitinho coisa e tal, o que já me causou estranheza, já que é uma raridade atualmente.  Então, começou uma história impossível de enfiar um vampiro no meio. Não combinava. Mas fui surpreendida, porque sim, dava pra enfiar um vampiro, assim como outros vampiros e ficou ótimo. No geral, o filme mostra como se daria a transformação de um vampiro e, que inclusive, existiriam duas versões da criatura mítica bebedora de sangue, uma que ainda domina suas faculdades mentais e outra completamente animalesca.

Apesar do baixo orçamento, a fotografia é impressionante. Efeitos especiais bem feitos. Além disso, roteiro sem ponta solta, envolvente e tenso. Detalhe que o diretor também é protagonista do filme, que foi premiado no maior festival de filmes de terror, Fantastic Fest.

Tanto dirigindo quanto atuando. Ao lado dele, o ator Clif Prowse, que também não conheço, fez a co-direção. Fez com competência o papel de amigo fiel de Derek. O roteiro também é dos dois. No filme os atores principais mantêm seu próprio nome, o Derek faz o Derek e o Clif faz o Clif. Aliás, quase todos mantêm o próprio nome. O final é até surpreendente. Não é o tipo de filme que tenha sustos gigantes. São sustos discretos. Ou quase nenhum. Nem tem muitas cenas de sangue. O que mexe mesmo com a gente é que se torna tão plausível, tão possível de ser verdade, que dá um medo. Pior, a gente se coloca fácil no lugar deles. A empatia é instantânea. Será que faríamos o mesmo que fizeram? A premissa e execução são bem originais.

Boo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Mês do Halloween - Deixa ela entrar




O filme, como tantos outros do gênero, na verdade, como a maioria dos filmes resenhados aqui, é baseado num livro que é homônimo, Deixa Ela Entrar, do autor sueco John Ajvide Lindqvist. É uma história de terror de verdade, uma história de vampiros, que te deixa impressionado depois que lê, e olha que eu não me impressiono fácil. E o livro vai além no quesito assuntos indigestos e terríveis, como pedofilia e bullying, de maneira nada eufemística. E o filme, ao menos a excelente versão também sueca, caminha por esses trilhos assombrosos.

A história então gira em torno de Oskar, um menino de 12 anos que tem uma vida bem difícil, sofre de incontinência urinária, mora no subúrbio da cidade com sua mãe. Seus pais são separados e ele não tem um relacionamento muito bom com o pai. E depois disso tudo, ainda é alvo de meninos de sua escola, que o zombam, o machucam, e fazem atrocidades com ele bem pesadas. No livro as coisas são bem chocantes, o que causa um terrível desconforto, recurso do escritor para ajudar no clima de terror ipsi literis.

Deixa Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, 2008) consegue renovar o gênero e conquistar fãs chatos, como eu mundo afora, por fazer dessa maldição uma metáfora das dificuldades da adolescência. 

Oskar (Kåre Hedebrant), cansado de ser saco de pancada na escola, que treina seu revide sozinho no quarto, com uma faca. Quem parece um vampiro aqui é ele: loiro, retraído, branco quase albino, com sangue nos olhos e, descobriremos depois, até uma tendência para o masoquismo. Mas Oskar é só um garoto normal. Até o dia em que ele conhece Eli (Lina Leandersson), garota que acabou de se mudar para o prédio de Oskar e que chama atenção pela janela do quarto, tapada com papelão. Como Oskar, Eli não é muito de socializar. E ela também tem 12 anos, só que há muito mais tempo. Acabam ficando amigos, no jardim coberto de neve diante do prédio, à noite. A relação clássica do gênero pressupõe um vampiro secular, ciente do fardo que carrega, e um humano, que, na sua breve e ignorante existência, inveja o poder do outro. É evidente que, ao descobrir que Eli é uma vampira, Oskar não se afastará, pelo contrário. 

Os acontecimentos seguintes são aqueles que, nesta história de formação, definirão quem Oskar realmente é. Há toda uma tradição envolvendo o gênero, e o diretor Tomas Alfredson se livra um pouco dessa carga com uma dose de ironia. O pai de Eli só toma leite, o gordo que testemunha os crimes é criador de gatos, o blusão que Oskar veste na casa do pai parece uma capa vermelha de Drácula, ou seja, coisas que só o cinema europeu faz por você.

 Ao adicionar em seu filme realista uma dose de caricatura, Alfredson se permite não se levar a sério demais e se cria então espaço para fazer um pequeno grande filme. Prevalecem a bela construção da relação dos dois garotos e as analogias com a adolescência normal, como o complexo de Electra.

Boo.
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